Há um lado sagrado, da cama,
onde borboletas azuis pousam,
manhãzinha.
A moça, quando acorda,
emaranha-se nelas,
leve como algodão,
pra não ferir-lhes as asas translúcidas,
orvalhadas de infinito.
E, rígida, ali fica
coberta de borboletas
que lhe tomam inteira,
deixando apenas o rosto nu,
como morta.
E a terra lá fora
arde e ruge,
meninos são mortos
e velhinhos tristes
caminham como lesmas,
lentos, cabisbaixos. Não têm mais, futuro...
E a moça lembrou-se
que uma menininha, ao encontrar uma lesma
lesmejando numa pedra,
virou-se para a avó e disse:
-"vó a concha tá com a língua de fora"!
Menininha inocente, não sabe que a lesma,
como a moça deitada,
estavam inteiras, escancaradas de esperas,
sedentas, plenas de apelos,
com a cara e o corpo de fora,
para os tapas do mundo.
Mas a moça, abraçada por suas borboletas,
encasulada de azul,
encasulada de azul,
estava quase feliz, deitada naquele lugar sagrado,
da cama...
da cama...
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