terça-feira, 27 de dezembro de 2011

"FELICIDADE" - Joia Rara. Rita Bittencourt

Perdi a mamãe em setembro e só consegui sossegar minha alma quando busquei em minhas lembranças um momento feliz para que eu pudesse retê-la. Daí, pintei esse quadro em que retrato a mamãe, eu, minhas irmãs e os cachorrinhos. Quinze dias de profundezas em que só os pincéis conseguiram descarregar minhas agonias pois, as joias, não aguentaram a força da minha raiva e lamento. No fim, coloquei eu mesma a moldura, assinei e pendurei-o em minha sala, de frente para o mar e para a luz do sol da manhã, representando a esperança que deixei entrar em mim, novamente. Chamei-o FELICIDADE que é o que desejo para todos em 2012.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Bracelete" - Joia em Prata - Rita Bittencourt

Pedra cravada...
No peito, cravos também.
O bracelete me algema...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Brincos "Papoulas Bordadas" - Joia em Titânio, prata e ouro. Rita Bittencourt

E todas foram para ti,
meu passarinho.
Fiz um jardim...

Brincos "Lírios" - Joia em Laca Japonesa - Rita Bittencourt

O que dizer
de lírios
que nasceram assim,
meio baldios
enquanto eu chorava por ti,
por tua ausência?

Brincos "Papoulas " - Joia em cobre, prata e pérolas - Rita bittencourt

Elas caem pela manhã
úmidas de orvalho
e coalham o chão de amarelo...
À tarde,
enegrecidas,
leva-as, o vento...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Detalhes da peça: o mar lá dentro... Anêmonas... Joia em prata e tecido - Rita Bittencourt

A inspiração para o colar abaixo...

Oceano - Foto de Hélio Borges Matos

"Anêmonas - Flores do Mar" - Joia em prata, tecido , vidro e pérolas - Rita Bittencourt

Minha joia em Berlim. Colar/Estola - Multiuso. Joia autoral inspirada nas anêmonas multicoloridas que enfeitam o fundo do oceano. Exposição Joalheria Brasileira - Alemanha - Embaixada Brasileira em Berlim, de 21 de setembro a 21 de outubro de 2011. Foto de Daniel Geller.
E elas se enrolam
em corpos
feito caracóis
azuis, rosáceos...
como beijos leves, soprados,
como carícias
que levam o mar para entranhas prenhes...

sábado, 13 de agosto de 2011

"Colar Urucum" - Joia em prata, cobre, pérolas, tecido e topázios -Rita Bittencourt

Explosão...
como fogos de artifício
tingindo de alegria e rubro
o negro da noite.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Borboleta, Borboletas" - Rita Bittencourt

Essa não voou...
Permaneceu
como se no casulo
envolta em tramas...
Asas molhadas de afeto,
aconchegada para sempre
no colo
de sua dona.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Brincos "Uvas Verdes" - Rita Bittencourt

Ainda verdes
pra lhes colher maduras,
doces,
mel.
Sem desdém,
à espera da plenitude.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

"Brincos Cobrinhas" - Rita Bittencourt

Cobrinhas podem ser belas,
elas no solo
e eu na janela!

terça-feira, 14 de junho de 2011

"Flor de hibisco" - Rita Bittencourt

E quando o sol nasceu
ela estava lá, rubra e etérea.
E um beija-flor bebeu
do seu néctar,
rodopiou,
voltou
e partiu
rumo ao infinito...
Ela ficou alí
para cumprir sua sina de flor...
Assim, alegrou minha manhã
e transportou-me,
com sua beleza,
ao rastro do beija-flor.
Rumo ao infinito...

terça-feira, 7 de junho de 2011

"Cenas de Viagem" - Rita Bittencourt

Saímos hoje do Rio, eu e o meu Edinho, e nos dirigimos a Juiz de Fora onde fomos tratar de minha próxima exposição. Acordamos cedinho e lá pelas oito horas tomávamos o café da manhã na Pavelka, em Petrópolis. Nos sentamos, e enquanto esperávamos o café, um homem moreno, alto, se aproximou e elegantemente falou:
- "Com licença, minha mulher faz aniversário hoje, pedi um bolo, vocês poderiam me acompanhar para cantarmos o parabéns pra ela?"
Prontamente dissemos que sim!
Ele ainda disse que esperássemos um pouco até o bolo chegar, que seria uma surpresa... E se dirigiu a outra mesa, onde estava outro casal e presumo que falou o mesmo. Nos entreolhamos todos, aguardando o sinal. Presumimos que era a chegada do bolo trazido pelo garçon. E quando chegou nos levantamos e nos dirigimos à mesa deles, num cantinho de enamorados. E cantamos parabéns feito crianças, para uma bela mulher, timidamente surpresa e feliz com homenagem tão inesperada. O homem, orgulhoso feito um menino em sua mais atrevida travessura, coisa que nos encantou a todos. Naquele momento éramos uma família. Nos abraçamos, nos beijamos, comemos o bolo - de bananas e passas - e partimos para nossas vidas tão sem surpresas, tão absolutamente, previsíveis!
E no caminho fui pensando, emocionada, que coisas assim ainda acontecem nesse nosso mundo louco, que os homens continuam apaixonados por suas mulheres e, não só ainda mandam flores, como confraternizam com estranhos, fraternalmente.
Fiquei pensando que bom seria se sempre fosse assim, que nos falássemos, nos beijássemos e nos abraçássemos como se fosse a coisa mais natural do mundo, que não tivéssemos medo ou desconfiança e buscássemos essa essência escondida de homens bons e fraternos que escolhemos deixar guardado nos escaninhos para não parecermos tão frágeis aos deconhecidos.
Mentalmente desejei ao casal, Adriana e Antônio, mais do que felicidade: eternidade. Que jamais se desencontrem e que quando forem estrelas fiquem lado a lado, no firmamento.
E agradeço a eles esse começo de manhã tão lindo que contribuiu para que tudo desse certo hoje e para que eu nem ligasse, nem ligasse mesmo, para a caixa do supermercado, indagorinha, que não respondeu ao meu entusiamado boa-noite!
Boa-noite, Adriana e Antônio. Parabéns. As flores acima são pra vocês!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bracelete - Rita Bittencourt

Partiu como tantas outras peças únicas. E ao procurar o que postar hoje, me deparei com ele. Confesso que fiquei triste... Saudade, apego, lembranças? Não sei. Talvez perplexidade e espanto... Parece-se com uma lagarta, um bichinho peludo, "com seus olhinhos infantis", e eu só quis fazer uma folha orvalhada com minha visão surreal. Me recolherei cedo hoje . Estou, mesmo, triste... Talvez fique assim por uns dias pra pensar e aprender a viver bem essa tão curta vida, mesmo que pudesse ser de séculos!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

" Titânio - Preciosa pérola" - Rita Bittencourt

Pérola única
que se derrama em prata,
em azul anil
e ouro carcomido...
Quedou-se aí e ficou...
E partiu assim,
como veio,
solítária e bela,
preciosa pérola!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Aconchego" - Rita Bittencourt

Carneirinho com frio,
tão fragilzinho,
tão filhotinho,
tão pequenininho...
Colo de mãe,
quentinho,
peludo,
branquinho,
fofinho,
que paz!
Para todas as mães, para as mães de filhotinhos, como a que ganhou esse anel nesse Dia das Mães, para a que ganhou um também, no dia do casamento da filha caçula!
Parabéns pra nós todas, para as que não ganharam anel, mas ganharam flores, para as que não ganharam nada mas ganharam tudo pois ganharam AMOR que é só o que IMPORTA!

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Eternidade" - Rita Bittencourt

Sei quando vens...
Um vento te anuncia,
um cheiro de flor,
um canto de pássaro...
Sei quando vens...
Quando chegas, delicadamente,
na garagem
e seu carro ronrona como um gato
emaranhado em tules de seda.
E chegas...
Uma lufada de alegria,
sempre uma notícia boa
em teu olhar dourado.
E teu beijo
não é de chegada,
nem de partida,
é de eternidade,
meu amor.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

"Folhas Secas - Renovação" Rita Bittencourt

Quando semeamos,
germinam os grãos,
nascem as flores,
crescem os frutos,
caem as folhas...
E quando elas caem
começa o semeio de Deus...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Rita Bittencourt - " Borboletas"

Quem sabe uma revoada?
Prata, pérolas cultivadas e fitas de seda.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Borboletas"- Rita Bittencourt

Para Marta, Sandra e Simone, que reclamaram que ando sumida, Borboletas!
A vida tem rumos próprios e nos coloca em casulos, ou no front, pra nos fazer melhores, mais belas, mais plenas. Nos põe pra fazer coisas fora do nosso planejamento... Nos enreda pois precisa da gente. E a gente dela!
No início me pega relutante, depois, me encho de contentamento. Pra nascer Borboleta!
Ainda ficarei por conta da vida por uns tempos, que me arrumou serviço além da conta, mas postarei aqui toda a semana. Prometo!
Beijos,
Rita

domingo, 17 de abril de 2011

A JOIA - UMA COMEMORAÇÃO! - Rita Bittencourt

A joia é, para mim, a expressão da minha alma. O que ela pensa, o que ela vê, o que imagina e gostaria de alcançar, de ser... O que vejo e, na verdade, sou. Às vezes, algo me emociona. Pode ser uma dor, uma alegria, um observar impotente, um lampejo, um entusiasmo, uma perplexidade, um deslumbramento, uma surpresa, uma saudade... E transformo esses sentimentos em joias. Por isso, jamais verão aqui alguma joia que não queira dizer nada, explícita em metais, gemas e técnicas... Verão, sempre, um sentimento, uma insistência, uma alegria, uma esperança, um observar e até um sofrer... Não verão tendências, simplesmente por convenção... Não creio nelas pois passam... Verão aqui, sempre, um momento pessoal pois não faço joias para venda. Elas partem, por consequência, porque são bonitas ou agradam, ou evocam uma lembrança, uma bela cor, porque são essências de todos, de um, de outro, uma SAUDADE, uma LEMBRANÇA, uma ALEGRIA, uma CRENÇA, um DESEJO, um POEMA... Uma COMEMORAÇÃO!

sábado, 16 de abril de 2011

Rita Bittencourt - Colar "Terra, Sol e Lua"

Assim,
encontram-se
e aconchegam-se
em colos mútuos
para quedarem-se
em colos por aí...

Tiragem: 10 peças assinadas e numeradas.

Meu querido titânio!

domingo, 10 de abril de 2011

Ando por aí aprendendo que é coisa que nunca acaba!

"Aves livres" - Colar - Rita Bittencourt

Gosto delas assim,
empoleiradas,
em revoada,
em debandada,
ou cada qual em seu galho...
Nas matas,
nas árvores,
em voos,
eternizadas em fotos
ou joias...
Me entristecem, as gaiolas...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Anel "Beijinho" - Sob tramas - Rita Bittencourt

Assim, escondido em tramas,
queda-se e espia... Lá fora há sol, luar, riso, canto... Afaste os fios pra poder voar, desenlace-se pra poder cantar, corte as tramas pra se libertar!

Anel em prata, resina, folha de ouro 22k e pérolas.

sábado, 26 de março de 2011

"Réquiem a uma estilheira" - Rita Bittencourt

Velha estilheira
de tantos furos,
de vincos fortes
que casos conta?
De serra e lima,
de broca e ajustes
que sons escuta?
São sons e casos
só de alegrias,
de histórias boas,
Joãos, Marias,
de quantos mais?
Minha amiga,
descanse em paz!
A estilheira é um unstrumental do ourives, de madeira, acoplado à banca de trabalho, que serve de apoio para várias intervenções necessárias a confecção de uma joia.

segunda-feira, 14 de março de 2011

"Feliz da Vida"

Mora uma alegria aqui
ensolarada,
desvergonhada,
amanhecida,
agradecida,
feliz da vida
mas,
com pressa...
Anel em prata oxidada, pérolas barrocas e flores...
Dedico essa joia e a poesia à mamãe para quem eu colhia florinhas baldias no caminho da escola...
Hoje é o Dia Nacional da Poesia!

sábado, 12 de março de 2011

FENINJER - Rita Bittencourt - Exposição 350 Anos do Caminho do Ouro

FENINJER - Rita Bittencourt - "Índio quer Colar"

FENINJER - Fev. 2011 - Colar confeccionado em ouro, prata, cobre e espinhos de porco-espinho africano, gentilmente cedidos pelo meu amigo taxidermista Iezo Letterman.

FENINJER - Rita Bittencourt - "Exposição 350 Anos do Caminho do Ouro"

Rita Bittencourt e Fernanda Azevedo da AJORIO - FENINJER - São Paulo, fev./2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"A Dança do Cisne"

Desliza, etéreo, o cisne n'água.
Plumas brancas despontam
para enegrecerem-se ao cair da noite.
O lago encrespa-se
e o conduz a luares azulados.
E ondula-se, mais e mais,
sobe e desce,
redemoinha-se.
Dança que o conduz ao voo.
Ganha, o cisne,
o infinito
ao amanhecer
para assim
viver...

Seda, pérola, cobre negro.
Este anel foi criado para uma bailarina.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

"Pudolzinho"

Anelzinho,
tão bonitinho,
tão pudolzinho,
orelhas peludas,
pompons de veludo,
rabinhos redondos,
esponjas de pó
em gavetas de vó...

Cobre oxidado, prata, pompons de seda.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

"Brincos Urucum"

                                        Assim como o fruto,
aberto, pleno, pronto.
Luzes da noite,
estrelas no céu,
plenitude.
Colhido de minhas lembranças,
construídos de minha força,
nascido de cheiros
e extasiamentos.
Colhidos do pé,
do meu olhar de menina,
pequenina...

Brincos em ouro, prata cobre, topázios brancos e pérolas cultivadas.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Coração do Lixo, coração de luxo." - Rita Bittencourt


Assim, em minhas mãos pousada,
no chão achada,
coração do lixo.
Bruta, forte, sonho azul
como o mar
ou  como um céu plumbeo de nuvens dágua.
Uma oferenda, uma alegria, um cuidado...
Um presente
 como florinhas baldias
de antigamente, dado às mães
que esperam o retorno do filho,
sempre tão amado...
Obrigada!

Pendente com pedra bruta, couro, turmalinas, prata rodinada,  uma pérola dos mares do Sul, as outras, cultivadas.
A pedra, um presente do meu filho, literalmente, achada no lixo!

domingo, 30 de janeiro de 2011

"Querida vovó" - As lágrimas de Maria - Rita Bittencourt

Por onde andas, vovó? Em que céu pousou, em que galho se empoleirou a minha avó choca, que me aninhava em seus braços e me ninava à noite enquanto eu ouvia a guizalhada dos grilos no mato, que me acalentava, me contava histórias e que ficava me esperando embaixo da laranjeira velha sem espinhos, colher a última laranja madura da temporada? Me dizendo que era fácil, que eu conseguiria? Ah, vó, não sabias com que medo eu subia  naquela velha laranjeira buscando seu último fruto para dá-lo a ti. Não sabias vózinha, que mesmo com um medo medonho, eu subia porque sabia que te encontravas lá embaixo, olhando pra cima, me guiando. Vê-la, pequenina, com seus olhinhos escuros estreitados, era a certeza de que seus  braços estariam abertos, a me esperar. Dirão, os outros, que eras sem juízo, "uma avó permitindo  aquela insensatez, aquela loucura de deixar uma menina de cinco anos subir em árvore daquele jeito". Mas nós duas sabíamos,  que não, não é vó? Nunca soubeste, dito por minha boca, o horizonte que pude ver lá de cima, pois  não sabia me expressar ainda, com as palavras que hoje me saem tão fáceis, nem com a escrita que ansiei tanto saber. Mas sei que avaliavas. Lá, me igualava aos pássaros em revoada, ao gavião que roubava as suas galinhas, ao avião que passava distante, com seu zumbido de lata, levando criançinhas - junto com a cegonha, para mães ansiosas - e carregando meus sonhos e minha saudade ancestral que, até hoje, tenho e não sei de quê... Lá eu conseguia, vó, entender o mundo que me apresentavas pois eu o media enxergando o firmamento. Lembro-me bem, que dizias:
- " Vê, lá longe, o que não consegues enxergar? É tudo o que te espera. Lá, mora o infinito, lá estão as estrelas!"
E tu sabias, vózinha, o que eu sentia, pois conseguias penetrar no meu peito, dissecar meu coração, sabias que, lá de cima, eu podia te entender mesmo as palavras sendo poucas ou nenhuma... Eu, no topo da laranjeira e tu embaixo, me olhando, conseguíamos compreender certos mistérios pois naqueles momentos alcançávamos a sintonia perfeita. Por isso, vó, eu subia com cuidado, menos com medo da altura, mas para não me machucar, pois não queria perder tua confiança. Também porque, mesmo pequena, eu sentia o que querias dizer e não queria que me afastassem de ti por seres corajosa  e por perceber que uma menininha da roça precisava enxergar o horizonte e sonhar com o que havia além. Que uma menininha da roça não podia viver sempre ao rés do chão. E foi dessa forma que me ensinaste a espreitar o mundo que sabíamos, lá fora, e longe, me espreitando. Eu sabia que aquele era teu jeito de cuidar também do crescimento das minhas asas, preparando-as para as tantas investidas que fiz, até aprender a voar.
Não  fazias aquilo com os outros netos, que pediam. Afastava-os da nossa laranjeira velha, distraindo-os com coisinhas do chão, com os pintinhos das galinhas, com os patinhos nadando nos cochos, com os berros dos cabritinhos. E quando eu descia, vózinha, te oferecendo a laranja, a descascava  cuidadosamente com sua faquinha, tirando a casca inteira, espiralada, deixando-a  contornada de caminhos brancos entremeados de verde, produzidos pela lâmina afiada rompendo a casca. E pegavas aquele espiral, de quase metro, me ensinando a rodá-lo por sobre a cabeça, feito laço de pegar novilho no pasto, repetindo o abecedário,  dizendo que, na letra em que a casca se rompesse seria a letra do "príncipe" com o qual eu me casaria - Peguei-me, muitos anos mais tarde,vó, já moça, fazendo isso, cuidando para que a casca se quebrasse, de propósito, na letra do nome do rapaz pelo qual eu estava "apaixonada". - Aí, tiravas um tampo da laranja, cônico como um peão,  deixando um buraquinho miúdo que eu chuchava para soltar o caldo, e tu ainda a apertava em minha boca , deixando o néctar escorrer pela minha garganta e molhar minha roupa, feito um riozinho doce escorrendo par dentro de mim. Devolvia-me , daquela forma, a laranja que eu havia colhido para ti num gesto carregado de simbolismo, cumplicidade e amor.
Sei que sabes, vó,  que encontei o meu "príncipe", que alçei o meu voo, que fui embora e nunca mais voltei e partistes antes que eu estivesse aberta para falar dessas coisas. Sabes que sou feliz, que alcancei o firmamento algumas vezes, que já tenho as estrelas que busquei. Hoje sou avó também, mas quisera eu, vózinha, ter uma laranjeira para um dia ensinar minha neta a colher seus frutos buscando o infinito...
Querida vovó, tenho tanta saudade...

Para meu amigo Angelo...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Camafeu em esmalte" - Rita Bittencourt

Em que colo repousas, camafeu?
Dama de ouro, menina de cachos,
em que braços deita e sonha,
em que luas  ou sóis se esconde,
em que mar azul se perde,
em que asas de gaivota gigante
plaina
e voa?
Em que verde
se encontra
ou em que noite
se esvai,
menina?
Por que partiste,
para onde?

Este pendente, agora camafeu, foi postado novamente depois da arte do meu amigo Flávio Ramirez que lhe conferiu esse ar eterno e etério, com essência de passado e de saudade. E assim  mereceu novo poema pois transmutou-se e transformou-se numa peça antiga como se saída de gavetas de mãe, ou vó...


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rita Bittencourt - AS LÁGRIMAS DE MARIA - "Soco no Estômago"

    " Ela se escondeu sob o pedaço de bolo. Deixei. Sorvi o café quente que desceu pela goela queimando, indo parar no oco do estômago. Como um soco, quente, visceral. Engoli de dor, duma vez só, aquela quentura redonda... Errei na dose do gole e na avaliação da quentura. Tenho que tomar mais cuidado. As lágrimas na beira de cair... Aí, talvez para amenizar o impacto da dor, cortei um pedaço grande de bolo com o garfo e o lançei à boca na tentativa de amenizar o estrago. Enquanto rolava a maçaroca de bolo solado na boca, a vi. Machuquei-a quando cortei o bolo. Pequena, tanto, que se não estivesse de óculos não a teria visto. Lentes potentes, quatro graus... Ela se apoiou  nas pernas dianteiras, feito cachorro sentado. A cabeça grande, desproporcional, sem sustentação. Como um balão de gáz, lenta, pendia, ora pra um lado, ora para outro, tonta. Engoli  o bolo duma vez só. Desceu rasgando, querendo fechar a glote. Mas, naquele momento minha atenção desviara-se de meus desvarios gastronômicos e concentrava-se nela. Tão pequena... Tentou andar, pareceu-me arrastar as pernas traseiras como se só as da frente tivessem força, tentando carregar o corpo morimbundo. Quis ajudar mas meus dedos, naquela hora, tão grandes e pesados, recuaram por si. O estrago seria maior. Fiquei olhando aquela luta inglória, o jeito desesperado, a desolação, a solidão da formiga morrendo ao lado do garfo brilhante, do bolo compacto, gigantes estáticos. Será que ela me via? Olhos verdes assustadores, ventas arfantes? Boca, crateta aberta de espanto? Devo ter sido um ET, o gigante temido, o bicho materializado, terror de sua vida e de sua morte. Aí a cabeça pendeu para a direita, lentamente, e ficou, por momentos, parada, até tombar, finalmente. As patas encolheram-se e embolaram-se junto à cabeça enorme. Estava morta.
Não consegui terminar o café. O prato branco realçou a formiguinha comedora de açúcar, pontinho negro, enconchado. Levantei-me da mesa com um nó na garganta, uma dor no estômago, uma náusea doce, ondulante. Não sei se foi o café quente, o bolo massudo e mal ingerido, aquela morte gratuita, da formiguinha... Não sei... Ou sei?"

Mortes gratuitas... Quantas, ainda, teremos que assistir?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Rita Bittencourt -"Menina Azul"

Solitária e pequenina,
tão pequena,
tão menina...

Pendente em prata, esmalte, murano, pérola e couro.
Rita Bittencourt


Rita Bittencourt -"Cores, cores, para que te quero?"

Para que te quero,
cores,
oh! cores?
Para alegrar minhalma
e colorir o cinza
do meu peito
que insiste em ficar, às vezes...
Para que meus sonhos
se encantem
e tragam um amanhecer
de sol a pino
e um dia de cantos
sem fantasmas...
Para que eu chegue
com alegria sempre,
e abraçe o amigo
e o conforte
sabendo que lhe dou
o melhor de mim:
 minha alegria!

Pendente nascido, ontem, de minhas primeiras experiências em esmalte. Cobre, prata, ouro, esmalte e couro.