terça-feira, 5 de novembro de 2013

Rita Bittencourt - "ORAÇÃO"

Ó Mãe, Maria, Mãe de Deus e de todos nós
devolve a minha mãe por um dia.
Sabes do sofrimento da orfandade de mãe e de filho...
Dê-me uma noite pra prosar com ela,
 inteira e longa, de sono profundo,
e que ninguém me acorde,
nem o vento uivante ou trovões,
ou o claro ofuscante dos raios,
 ou batidas na porta fora de hora,
 ou o frio, ou a fome, ou a sede, ou a dor...
E que ela me ensine a bordar aquele ponto de nó
que nunca liguei de aprender,
que me diga a receita da cocada branca macia
que eu tinha na conta de que nunca iria precisar...
E que a gente gargalhe costurando um vestido rodado,
azul,  que nem o primeiro que ela me ensinou.
Quero contar notícias das meninas, do papai, de nós.
 Preciso d'alguns conselhos e ouvir a voz tão linda dela.
 Pode ser até um  canto triste, de amor impossível...
Nessa noite, pode ser...
 Quero saber como é o céu...
 E que nessa noite nos permita os beijos guardados
- todos!-
 e um abraço  apertado, de despedida,
pra sossegar meu peito agoniado e inflamado de pranto.
 Pra que, finalmente, a paz amanse meus dias
 e pra que minha alegria deixe de ser espreitante
como um olhar num buraco de fechadura... 
Ó Mãe, Maria, Mãe de Deus e de todos nós
me dê atenção e me mande esse sonho.
Amém!


"ENCANTADA" - Um Conto de Fadas - Rita Bittencourt

                     Ninamenina, uma aprendiz de fadinha, brincava de fazer mágica. Dessas, simples, de transformar cores, de colocar asas em bichos que não voam, de embelezar lagartas feias, de consertar patinhas machucadas de bichinhos arteiros, de dar asas a cobras...
                      Ninamenina sonhava em casar-se e usava sempre um diadema  de prata e pérolas e um véu longo  e branco que a fazia flutuar. Um dia, no meio de uma mágica com borboletas, que eram negras ,emaranhada numa revoada delas, resolveu colori-las. Pincelou-as de cores. As do Arco-Iris. Algumas escaparam e permaneceram negras pois pintar borboletas em voo é fogo! Ainda treinando, decidiu faze-las  estátuas. Parou o voo das borboletas, parou os bichinhos da terra, os pássaros no ar, parou o vento... E, num descuido irreparável, virou a varinha mágica para si mesma e transformou-se em estátua. Ficou assim, uma noiva incompleta, com um véu salpicado das borboletas que coloriu. Estática, puro espanto... Talvez um noivo quebre o encanto, talvez permaneça assim para sempre, mas creio que seu coração ainda bate emoção. Está apenas ENCANTADA...
                                                                  Rita Bittencourt

     Foto realizada pela equipe de fotógrafos da Casa Design 2013