quarta-feira, 18 de junho de 2014

"TOQUE EM DOBRE" - Rita Bittencourt


    É hora
do toque em dobre, dos sinos,
apunhalando gritos sem festa,
desconsolados em seus ecos, reverberando
nos carros que escoam
nas veias vivas das ruas sujas,
vagando no ar.
É hora
 do toque em dobre, dos sinos
que choram Marias sem ais,
meninas perdidas em desamor.
Dobram também
por meninos de olhos parados
mergulhados em latas de cola
enfiando a cara no oco escuro
do poço seco, fantasmagórico...
É hora
do toque em dobre, dos sinos,
que choram ruas ensanguentadas
e  dedos retesados, no gatilho.
Choram meninos mortos
e mães cansadas, esquálidas,
com seus lutos intermináveis,
sem lágrimas para consolo, secas,
olhos parados, sem ver.
É hora
do toque em dobre, dos sinos,
de repicar pelas águas
de janeiro a dezembro,
sujas, enlameadas,
que não alentam as entranhas da terra.
Antes, secam e gretam as almas.
Dia haverá que os sinos dobrarão por nós,
por nossos fantasmas...
 
Foto tirada em fevereiro de 2013, cálice de vinho, num jantar meu e do Edinho, quando a luz incidiu magicamente sobre o "suor" da taça gelada. E peguei minha câmera e fiquei, ali, tirando fotos, ele, olhando-me encantado com meu encanto... Daria minha vida por aquela noite!