segunda-feira, 17 de agosto de 2015

BEIJA FLOR NAO ME BEIJOU... - Rita Bittencourt


Ah beija-flor
naquele dia, nem te vi
ou bem te vi e me escondi
fugindo do teu beijo?
Não percebi,
encolhida na minha dor,
que trazias
um  beijo
 mandado por meu amor...
 
Joia elaborada em titânio colorido a fogo, prata, couro e pérolas cultivadas, de água doce. Soldas mecânicas. Peça única, já partiu...


terça-feira, 30 de junho de 2015

MEU LUGAR... - Rita Bittencourt

Há  tempos atrás, sobrevoávamos o Rio, eu e o Edinho, pra pousar no Santos Dumont. E tudo era tão grandioso e belo, e inatingível, e distante que, tomada de nostalgia comecei a falar com meu marido: Sabe, amor, não sei a que lugar pertenço... Já fui de tantos, já quis ser de tantos, já estive em tantos e moramos aqui... No entanto não sei se esse é o meu lugar...
-Como assim? - ele me perguntou.
- Amo o Rio, mas não é minha pátria, entende?
- Amo Roma, conheço suas ruelas, mas não me pertencem, não pertenço a elas... conheço o Coliseu, entende? Já vi leões devorarem homens corajosos ou acuados...
- Entendo...
- Em Paris, ouvimos Piaf cantando, quando lhe visitamos o túmulo, lembra-se? Nos abraçamos emocionados...
- Que mulher fascinante!
- Apaixonei-me por campos floridos de girassóis e lembrei-me da agonia de Van Gohg... Lágrimas me vieram ao olhos. Você me beijou...
-Fomos ao Túmulo de Madalena... Abóbadas grandiosas penderam sobre nossas cabeças...
- Verdade...
- Túmulo de Evita - onde Evita não está - vimos. Túmulos devassados com caixões expostos... A decadência da morte explorada aviltantemente... Ricoleta, Argentina...
- Macabro. Não gostei, você disse. Eu também não...
- As fotos, tantas... Não sabemos a onde pertencem... Temos o ímpeto de tira-las para  não nos esquecermos mas nos esquecemos de que lugar  foram... Trocamos os santos das igrejas, os monumentos e nos esquecemos onde compramos aquela bolsa poderosa que custou quase um carro, que usei algumas vezes e a guardei num closet, feito uma relíquia...
- E nossa chegada a Portofino, com os sinos da igreja tocando um clássico que nossa ignorância musical não nos permitiu identificar? Gravei na nossa filmadora que foi roubada... Estávamos tão felizes. O mar azul de Portofino, é azul petróleo... Mar mais lindo nunca vi!
- E a Gruta Azul de Capri? Azul turquesa... Você me deu um colar de corais. Fininhos como gravetos...
- O túmulo de Grace Kelly... Como pode aquela mulher linda e cheia de vida estar escondida alí, naquela lápide? Mônaco... Não jogamos no Cassino mas vimos uma mulher oriental perder  vinte mil dólares em cinco minutos. E continuou a jogar...
- E a Gruta de Maquiné, em Minas? Cheia de estalactites... Você segurando mamãe que, espantada com o íngrime do "adentramento", queria voltar... Mas foi até o fim!  Caverna escura e tortuosa cheia de punhais brancos que pendiam do teto...
E o Corvado, O pão de Acúcar, a Vista Chineza e tudo o mais? O Convento da Penha, em Vitória, na  minha terra, na verdade, Vila Velha? E tudo o mais que vimos, que não vimos, nem veremos, talvez você, veja daí , do seu céu de anjos?...
Eu, não quero mais... Acho que a gente andava escolhendo um lugar pra morrer abraçados...
E VENEZA, MEU AMOR, QUE AMEI, AMEI, AMEI? Gôndolas, canções, poesia... Restaurantes escondidos em vielas, escondidas por ruelas aguadas de mar... Homens bonitos nos espreitando para levar-nos ao paraíso... Você, sempre desconfiado, eu, mais afoita, você me convencendo de que poderia ser uma armadilha... E a gente saia correndo de mãos dadas, como se fugisse, fingindo estar sendo perseguidos por piratas...
E as cerejas rubras, de murano, que comprei todas, e o vendedor se espantou? Mais de cem... Os homens soprando o murano, na Ilha?
 
Já fizemos tantas loucuras! E rezávamos em todas as igrejas, mas a melhor reza foi em Assis, em 2000, eu rezando em voz alta pensando que só havia estrangeiros... Quando terminei de rezar foi um coro de AMÉM!!! Brasileiros ouvindo meus segredos , pois foi uma confissão, ano do Jubileu, onde nossos pecados, todos, seriam perdoados, se passássemos em cinco portais - portas principais, só abertas em ocasiões especiais...   Rimos, gargalhamos e saímos de lá, abençoados, fãs de São Francisco, um jovem e nobre homem que escolheu ser pobre, servir a Deus, mas interpretou, literalmente, a fala de Deus e construiu uma igreja, quando a igreja que Deus falava era a igreja de um novo "pensar e ver"... Mas ele construiu e pronto, deve ter aprendido! Pelo menos ficaram com um templo pra rezar... e cuidar dos bichinhos. Às vezes, nos grandes apertos rezo pra ele e - "pá pimba"! - sou atendida! Sei que ele acha que sou um animalzinho inquieto cumprindo o ritual de virar gente... Quem sabe?
Mas, essa introdução tão grande, que seria maior ainda, se eu seguisse meu ímpeto de escrever, é só pra dizer, sei lá, pra escolher, o lugar ao qual pertenço. Naquele tempo não sabia e não sabia, ainda, hoje!
Mas sei que pertenço ao mar azul do Rio, ao seus relevos e montanhas, a seu ar cosmopolita, à sua urbanidade generosa. Pertenço às ruas enladeiradas de São Paulo - como amo São Paulo! - às íngremes subidas e descidas de Belô. Pertenço à Vitória , minha terra, aos confins da Bahia, onde terminei de criar-me. Mas também pertenço às terras áridas que o sol torra, gretada, coalhada de animais mortos. Pertenço ao Nordeste com a persistência da enxada, "arando" a terra cheia de esperança. E às famílias grandes, cheias de meninos barrigudos, prenhes de mandioca e calangos, e terra barrenta e amarelão.
Pertenço às florestas úmidas, às estrelas cadentes, à lua cheia, às tempestades, às aguas que correm acima das calçadas,  à grama molhada de orvalho. Pertenço ao breu da noite, ao grito que ecoa nela, e gela entranhas. Pertenço às gargalhadas das mulheres noturnas, aos sons da sirenes que rasgam o espaço, apertando o peito. Sirenas são sempre mau auspiciosas... Alguém sempre está por morrer, alguém, sempre, está por perder... Mas , às vezes, está por nascer... É preciso cuidado pra julgar... Melhor dizer, " vai com Deus"...
Também pertenço ao canto que reverbera nas naves das igrejas, qualquer delas, pois meu Deus é universal!
Pertenço aos meus santos, a da Conceição, à Rita, à Catarina, aos anjos, à Deus, à Iemanjá, que um dia uma mulher parou-me na rua e pediu que não cortasse meus cabelos. Eram de Iemanjá. Cortei curtos. Danou-se! Prefiro não falar... Deixei-os crescerem...
Pertenço a você, meu amor!
Por isso, AGORA, antes não sabia,  pertenço ao Rio de Janeiro, onde você estará para sempre e onde temos nosso local de encontro.
Até um dia, espero que seja breve, meu amor!


terça-feira, 9 de junho de 2015

GATO COMEU PASSARIM - Rita Bittencourt

Andei pensando, por que escrevo, às vezes, pra estranhos... Descobri: os estranhos são solidários, isentos, não precisam "curtir" pra inflar nosso ego. O estranho é verdadeiramente sincero. Se gosta, fala, se não gosta, cala-se... É isso que eu quero! E SURPRENDEM-ME! Sempre disse que sou sortuda! Tive o melhor homem do mundo, planejei um filho que dei ao mundo e orgulho-me dele, tive uma mãe invejável, tenho um pai mentiroso pra me alegrar e sincero quando lhe convém, poi...s é o seu jeito... Isento, feliz, pleno, inteligentíssimo, meu companheiro, agora. Cheguei inda há pouco e falei: papai, trouxe uns pastéis, uns pãezinhos, vou fritar uns ovos pra nós, abrir um vinho. Daí, fritando os ovos, comecei a poetar - sempre faço poesias e bebo vinho enquanto cozinho. O de hoje é CASA DE MOURAS, RESERVA, tinto Douro, o que me faz lembrar da minha amiga, cantora das boas, Rita Porto, e seu marido Ricardo, lá da terrinha...
Pois, poetando, queimei os ovos! O papai perguntou-me, o que está escrevendo? Fazendo poemas, papai... E os ovos, minha filha? Ah, meu Deus, queimaram-se!
Vou fazer outros, o pão tá quentinho... Papai falou, sabe, minha filha, não tou com fome, tire dois pães pra mim, mais tarde eu como... Vou pro quarto...
É DISSO QUE SINTO FALTA! O MEU EDINHO GARGALHARIA POIS JÁ O FEZ MIL VEZES NAS MIL VEZES QUE QUEIMEI NOSSAS COMIDAS. Mas papai não é o meu Edinho, é meu pai, do qual cuido com o maior carinho, meu companheiro e meu amigo sincero.
Fiquei triste, aborreci-me? NÃO!
Fritei, novos ovos - amo ovos! - peguei duas taças de cristal quase centenárias, e bebi meu vinho, olhando pra taça vazia que coloquei no lugar do meu Edson , na mesa. E estou aqui escrevendo pra quem quiser ler, pra quem gostar de ler, pra quem gosta de ouvir histórias. O poema?
Nasceu de uma observação, hoje pela manhã, no quintal da casa ao lado... Pensei na Véia Sará, nossa babá, que diria assim, do poema que chamei


GATO COMEU PASSARIM
Passarim, bunitim, olhim pretim, pequenim,
avoou, pra aprendê...
tonteou, caiu no chão,
gato pegô...
Ô dó...
Tô eu, aqui,
cum o coração apertadim,
fraquim, fraquim...

Quem tá com o coração apertadinho sou eu, minha velhinha. Fraquinho, fraquinho...
Estou reaprendendo a ser feliz, na solidão. Onde quer que esteja, obrigada por ter cuidado tão bem de mim! AMOR, AMOR, AMOR!!!

FELIZ PÁSCOA, DEUS - Rita Bittencourt


Como diriam os portugueses, " estou cá, na minha cama , a chorar"... De saudades... O dia foi maravilhoso, com minha familiazinha . A Duda, está linda, foi tudo tão perfeito que nem as batatas fora do ponto para a rostie, empanaram o brilho do dia. A barriguinha da minha nora cresce e Catarina, logo, dará as caras. Fico imaginando um serzinho miúdo, que encherei de beijos e mimos...
Cozinhei para minha família, fazendo um prato que o Edinho gostava e que meus queridos quase imploraram pra eu fazer. Ficou maravilhoso! Estávamos no fogão a quatro mãos - ou seis? - eu e meu filho, e minha Duda ajudando a mexer as panelas. Tudo ficou perfeito! Mas, e o depois, meu Deus, agora que todos se foram?...
Sei que sabes o tamanho dessa solidão já que, presumo, És solitário... não deves ter amigos pra festejar - e festejar o quê?- já que tudo é tão previsível pra Ti. E o que podes festejar, Senhor, com seus filhos em guerra, matando-se, enganando-se, tramando... Não queria ser o Senhor... Tens uma fama de inatingível, as pessoas preferem recorrer aos santos... Até eu, que tanto creio, só recorro a Ti em horas de muita dificuldade, esgotados todos os apelos aos santos... Acho o Senhor muito ocupado e já dissestes pra gente fazer a nossa parte que a Sua será feita... E agora, Senhor, que estou tão só, depois do depois, sento-me aqui, diante dessa maquininha milagrosa pra conversar Contigo... Obrigada pelo tudo que me deste permitindo que eu encontrasse o verdadeiro amor... Tantos nem sabem o que é isso... Mas, perdoe-me, todo o tempo que tivemos juntos inda acho pouco. Fizemos planos de velhice juntos, havíamos acabado de reformar os banheiros, tudo preparado para, pelo menos, mais vinte anos... Aí, o Senhor decidiu que tivemos tempo demais, deve estar com falta de anjos aí no céu e levou o meu Edinho. Já me rebelei, esperneei, e descobri que com o senhor não tem lengalenga. Tá feito, aguenta a barra pois vais fortalecer-se! Eu fraquejo...
E nesse dia que Seu Filho, JESUS, ressuscitou, após morrer para nos salvar, acho que, breve, o Senhor terá que vir à terra e executar essa missão. Estamos perdidos, o mundo arde, as pessoas matam-se, jogam bombas em inocentes, tem pessoas nas ruas rasgando sacos de lixo, famintas, dormindo ao relento. Há horas que espero o milagre, pois, nele, creio, pois já o mostrastes a mim... Sou grata. Tenho fé absoluta embora discorde dos Seus critérios e o Senhor já sabe disso e tem complacência com esse serzinho arrogante que sou eu e que criastes... Sou Sua filha, imperfeita que tanto O ama e crê, mas rebelde, com resposta na ponta da língua, com a pergunta antecipando-se aos acontecimentos... Perdoe-me, não entendo, mesmo, os seus critérios, embora várias religiões o expliquem, até a minha. Mas sou sua criatura... Por que deixastes-me chegar tão perto de Ti se não podes me dar a mão? Por favor, Deus, segure minha mão... Dê-me paz, conformação, resignação, como dizia a mamãe... Humildade ante tanto sofrimento, eu que estou tão amparada e amada... Dê-me notícias desse céu que prometeste-me, um recado do Edinho, da mamãe... Ah, Deus, socorra-me nessa solidão...
Que Sua Páscoa tenha sido feliz aí no céu, a minha foi ótima e passageira, mas temo que terás uma tarefa árdua pra consertar tanto mal feito. Um anjo mau passou por aqui aniquilando os Seus e parece que estão vencendo... Vem logo que a coisa é séria!
Beijos em Maria, em Jesus e em todos os santos. Um abraço apertado dessa sua filha tão precisada, desconsolada, fazendo, das tripas, coração! Amor,
Rita

sábado, 18 de abril de 2015

"LITERATURA" - Rita Bittencourt

Um dia desses minha nora perguntou-me:
- Tia, tem durex.
- Tenho.
-Onde está?
- Vai ao escritório, no armário do lado esquerdo de quem entra, abra a terceira porta e está na prateleira de baixo.
Ela foi, voltou e, muito prática falou-me:
-Tia, bastava dizer que estava no armário...
Eu respondi, brincando:
Filha, isso é literatura...
Depois postei umas coisas no face, na verdade, repostei, e todos os meus amigos ficaram preocupados comigo... Não era literatura... Era intensidade. Intensidade de saudade, de solidão , de desesperança, de agonia e espanto. Tudo isso, mas só! (?)  Sempre fui intensa, absolutamente feliz, plena, decidida, independente, amparada, amada, amada, amada... O que vocês fariam no meu lugar? Alguns ficam anos sob um edredom, outros infernizam a vida da família toda, outros, viram zumbis, outros catatonizam-se e ninguém penetra naquela parede invisível... Eu, tão só, com um pai maravilhoso e idoso que SE protege ( os idosos  protegem-se) perscrutando-me para ver se estou feliz - faço cara de feliz, rio, brinco - um filho atencioso que inverteu os papéis e , agora me dá conselhos-perambulo por esse casarão e não vejo graça em nada. Então, escrevo. Para os amigos e para alguns estranhos que conheço o jeito, a alma... E falo do que sinto...
Sinto, sinto falta e uma saudade imensa do meu marido, não vou me acostumar nunca em não te-lo, que deixou, com sua partida, um buraco no meu peito, que melhor seria se fosse uma bomba    que me desfizesse  e me lançassem na estratosfera e eu viraria partículas , as menores delas  e me embolaria na poeira cósmica e talvez, parte de mim formasse uma estrela, uma lagarta, um grão de areia, uma gota dágua... Mas meus queridos, tão preocupados, que me ligaram,  minhas irmãs, Almeidinha, Lourdes, Cibele, Eliana, Aurê, Miriam, D. Conceição, Magaly, meu filho, eu estou bem. Bem porque sei o que quero e preciso e me esforço para estar bem. Mas não se iludam, jamais serei a mesma. Mas vou rir, vou cantar, vou me alegrar, estou retornando, devagar... Seremos felizes juntos, novamente, eu vou viver a vida que Deus me deu até o fim pois quero ver a face Dele, um dia e falar, "Sobrevivi, assim me fizestes!"... E não me reprovem por ser malcriada com Ele... Somos os melhores amigos, sempre fui protegida e amparada  e por Ele quero ser julgada. Quando sentir vontade, vou escrever, às vezes, me arrepender depois, prestarei contas a Ele. Os que julgam-me negativamente e  censuram-me, excluam-me. Não excluo ninguém por ser uma pessoa muito bem educada e respeito todos as opiniões, credos, gêneros, escolhas... Escreverei sempre sobre o Edinho, meu amor. Eu o conheci com 17 anos. Não digo quantos anos tenho agora, pois minto a idade , mas passamos muitos anos juntos. Felizes, plenos, saborosos, divertidos, aventureiros, cheios de cumplicidade e já fomos às estrelas!

Sou grata por ter sido tão privilegiada. E talvez por isso, reclame tanto, mas Deus gosta de mim e eu O amo. Meus amigos, aguentem-me! QUE TODOS TENHAM A SORTE DE CONHECER UM GRANDE AMOR! SOU  E SEMPRE FUI UMA SORTUDA!

domingo, 5 de abril de 2015

"PEDIDO TARDIO" - Rita Bittencourt

E aquela mulher sexagenária que foi apaixonada por ele a vida inteira, respondeu assim ao pedido de casamento tardio:
Não, João, agora não... Passou do tempo... Queria você com sua paixão de 20 anos, quando você era lindo e seus olhos eram um mar... Queria você vivo do jeito daquele tempo. Agora, não falas... sussurra. Não me enxergas - vê sombras e pensas que sou bela. Vens me dar o pior de ti quando eu queria o melhor, seu entusiasmo, sua galhardia  e ardência.  E chegas curvado, turvo, pra eu te carregar. Já nem me carrego...
 Agora não, João, me acostumei com a solidão! Cai a tarde...

Feliz Páscoa, Deus - Rita Bittencourt

Como diriam os portugueses, " estou cá, na minha cama , a chorar"...  De saudades...  O dia foi maravilhoso, com minha familiazinha . A Duda, está linda, foi tudo tão perfeito que nem as batatas fora do ponto  para a rostie, empanaram o brilho do dia.  A barriguinha da minha nora cresce e Catarina, logo, dará as caras. Fico imaginando um serzinho miúdo, que encherei de beijos e mimos...
Cozinhei para minha família, fazendo um prato que o Edinho gostava e que meus queridos quase imploraram pra eu fazer. Ficou maravilhoso! Estávamos no fogão a quatro mãos - ou seis? - eu e meu filho, e minha Duda ajudando a mexer as panelas. Tudo ficou perfeito! Mas, e o depois, meu Deus,  agora que todos se foram?...
Sei que sabes o tamanho dessa solidão já que, presumo,  És solitário... não deves ter amigos pra festejar - e festejar o quê?- já que tudo é tão previsível pra Ti. E  o que podes festejar, Senhor, com seus filhos em guerra, matando-se, enganando-se, tramando... Não queria ser o Senhor... Tens uma fama de inatingível, as pessoas preferem recorrer aos santos. Até eu, mesma, que tanto creio, só recorro a Ti em horas de muita dificuldade, esgotados todos os apelos aos santos... Acho o Senhor muito ocupado e já dissestes pra gente fazer a nossa parte que a Sua será feita... E agora, Senhor, que estou tão só, depois do depois, sento-me aqui, diante dessa maquininha milagrosa pra conversar Contigo... Obrigada pelo tudo que me deste permitindo que eu encontrasse o verdadeiro amor... Tantos nem sabem o que é isso... Mas, perdoe-me, todo o tempo que tivemos juntos inda acho pouco. Fizemos planos de velhice juntos, havíamos acabado de reformar os banheiros, tudo preparado para, pelo menos, mais vinte anos... Aí, o Senhor decidiu que tivemos tempo demais, deve estar com falta de anjos aí no céu e levou o meu Edinho. Já me rebelei, esperneei, e descobri que com o senhor não tem lengalenga. Tá feito, aguenta a barra pois vais fortalecer-se! Eu fraquejo...
 E nesse dia que Seu Filho, JESUS, ressuscitou, após morrer para nos salvar, acho que, breve,  o Senhor terá que vir à terra e executar essa missão. Estamos perdidos, o mundo arde, as pessoas matam-se, jogam bombas em inocentes, tem pessoas nas ruas rasgando sacos de lixo, famintas, dormindo ao relento. Há horas que espero o milagre, pois, nele, creio, pois já o mostrastes a mim... Sou grata. Tenho fé absoluta embora discorde dos Seus critérios e o Senhor já sabe disso e tem complacência com esse serzinho arrogante que sou eu e que criastes...  Sou Sua filha, imperfeita que tanto O ama e crê, mas rebelde, com resposta na ponta da língua, com a pergunta antecipando-se aos acontecimentos... Perdoe-me, não entendo, mesmo, os seus critérios, embora várias religiões o expliquem, até a minha. Mas sou sua criatura... Por que deixastes-me chegar tão perto de Ti se não podes me dar a mão? Por favor, Deus, segure minha mão... Dê-me paz, conformação, resignação, como dizia a mamãe... Humildade ante tanto sofrimento, eu que estou tão amparada e amada... Dê-me notícias desse céu que prometeste-me, um recado do Edinho, da mamãe... Ah, Deus, socorra-me nessa solidão...
Que Sua Páscoa tenha sido feliz aí no céu, a minha foi ótima e passageira, mas temo que terás uma tarefa árdua pra consertar tanto mal feito. Um anjo mau passou por aqui aniquilando os Seus e parece que estão vencendo... Vem logo que a coisa é séria!
Beijos em Maria, em Jesus e em todos os santos. Um abraço apertado dessa sua filha tão precisada, desconsolada, fazendo, das tripas, coração! Amor,
Rita
Nossa mesa de Páscoa...

terça-feira, 17 de março de 2015

"Dona de Casa de mãos atadas - Consumatum est". Rita Bittencourt

Fui hoje ao supermercado. É claro, tenho ido sempre depois que o meu Edinho partiu - ele que fazia as compras,  adorava supermercado e suas novidades, era um glutão assumido e eu, uma cozinheira, sem modéstia, das boas! Eu, detestava pois sempre fui magra e sem apetite, trazia só, o que estava na lista, obrigação de mãe de família... Só comia comida  boa, o que não quer dizer , de luxo. Sei comer todas as comidas, desde que, bem feitas, bem temperadas. Amo miolos de boi, rins mal passados, tripas, ovos e os frutos do mar todos, e todas as caças, que faço muito bem, e vegetais fresquinhos, desde o chuchu à trufa, caroçinhos de quiabo e caviar, só não gosto do tal do "foá grá"!!! Já não gostava mas quando vi como os fígados dos gansos viravam aqueles nacos suculentos, perdi o gosto, de vez! Mas, voltando ao supermercado, hoje foi diferente... Era como se o Edinho estivesse ao meu lado, me ajudando. Trouxe novidades, mimos para o papai e para o Dinho, meu cachorrinho - bifinhos vitaminados! E nunca, nunca, senti tanto a presença dele e , ao mesmo tempo, sua falta. A morte é como uma "doença ruim", como dizia a mamãe, como se existisse doença boa... Primeiro, a gente é uma expectadora, depois deixamo-nos levar, aí, a gente finge que está se acostumando, às vezes, acha que é mentira, outras, culpa Deus e o mundo, para, finalmente aceitar o consumatum est, como se diz juridicamente. Hoje, acho, foi o dia do meu consumatum est! Estou só, não tenho , mais o meu amor, tenho que tentar  ser feliz com o TUDO que me resta - e é tanto! -  senão será minha perdição!
E fui observando como as embalagens dos produtos estão diminuindo em tamanho e teor. Os preços parecem menores mas, quando eles nos tiram 30g duma barra de chocolates de 200g, que, digamos, antes, custava R$6,00, e cobram R$5,50 pelos, agora, 170 gramas, aumentaram o preço em R$ 0,40. 170g deveriam custar R$ 5,10. O preço foi aumentado! E é uma inflação perigosa pois nos engana em todos os sentidos! Meu Edinho pegaria a maquininha dele e calcularia , logo , o percentual de aumento. E fui assim, pelo supermercado, sem pressa, dando passagem, pedindo para um senhor altííiíssimo pegar o açúcar cristal pra mim que estava no alto da prateleira, ajudei uma senhorinha escolher um azeite, verdadeiramente, extra virgem, observei uma  jovem donas de casa pegar dois kg de tomates , 1 kg de arroz, e 3, de feijão... Tentei ajudar, ela não deixou... Os jovens são soberbos...
 Pedi ajuda para escolher vinhos que conhecia - daria aulas!-  só para conversar, pedi orientação para tintura de cabelos, eu, que inda não os pinto, ( preciso!) só para interagir... Elogiei as batatas fresquinhas que o funcionário arrumava , como uma pirâmide. Pensei em pegar uma lá de baixo, mas ele estava tão feliz com a arrumação que deixei a "maldade" pra quem não teria maldade, ao fazê-lo. E  - bumba! - quando ele terminou de arrumar uma senhorinha escolheu umas batatas lindas da fileira de baixo, que  carregou com as outras fileiras todas, em erosão,  e foi uma festa no supermercado, num riso único e coletivo. E abracei a velhinha e o arrumador das batatas, e rimos juntos, e eu, tão maternal, quase sapequei um beijo nos dois mas me contive, pois já me dei mal com essa minha mania de beijar...
 Com isso, gastei mais do que achava que gastaria - ando aprendendo a ser econômica com minha irmã Cristina e minha amiga Marluce, mas gastei com gosto! -  E conversei com a moça do caixa e elogiei o sorriso dela e agradeci à empacotadora, com sinceridade,  pois minhas aulas de Mocumé com o Carlos Godoy, me lesaram o ombro direito e ando poupando-o .Vi que se quiser ser feliz novamente, tenho que me virar, estou quase só, nessa!
Daí, levei meu carro pra lavar num posto novo, e elogiei a lavagem da capota vermelha que andava meio  suja -  o lavador anterior não estava acertando - "sabe como é, dona, isso é lona, tem que tê um sabão especial qui nois não tem" -  dei belas gorjetas, esperei pacientemente, o sinal abrir, para atravessar, quase saí, "cantando na chuva"! E, carregada de uma felicidade triste, dei por mim que preciso viver para não morrer.
Meu amor, vou esperar nossa nova netinha chegar, tenho que cuidar do papai, o Vina inda precisa de mim, tenho minhas irmãs pra cuidar, pois eu fiquei no lugar da mamãe, minha Rege inda precisa de mim, minha Cris, religiosa, se agarra no manto de Deus, mas, está só e não sabe, e precisa de mim, ando amando minha Tatá como se fosse minha filha, nossa Duda cresce e vai precisar de mim, tenho amigos queridos que estão me ajudando, já consigo meus minutos de felicidade todos os dias, arranjei uma terapeuta ótima que lê  a minha alma e vou ficando por aqui até quando Deus achar que é a hora da gente ser feliz juntos,  novamente! Me aguarde com festa e com todos , pois não sei ser feliz sozinha! Dê beijos na mamãe, no seu pai, na sua mãe, em todos os nossos - tia Lígia em suas ausências, mandou beijos pra você - eu disse que você estava viajando... Fizemos o encontro dos Bittencourt. Levei nossa familhinha...
 Foi bárbaro!
 Cuide-se, fortaleça-se, não fique triste por mim. Estou bem, quase feliz pois só serei, plenamente, feliz, com você. Amor, amor, amor!
P.S.: O Dinho não quis almoçar. Só quer saber dos "bifinhos vitaminados"! KKKKKKKKKKKKKKKKKK!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"" A parte que me cabe" - Rita Bittencourt

Busco os mistérios, seus encantos
a surpresa, o enlevo.
Busco a tênue linha entre o sim e o não,
o fim escuro do poço,
a luz em explosão depois,
o mais e seus limites,
a plenitude do menos,
a embriaguez dos voos,
a agonia da queda e o assombro.
Insisto, persisto, nunca desisto.
Choro, esperneio, sou fera, sou santa,
não devo, não cobro,
não me furto, não fujo.
Já vi, ouvi, falei, defendi, vivi, intuí, acertei, errei,
mas não dei a cara à tapa! Caras, não estapeei...
Carne viva,
já morri mil vezes,
nada mais me espanta...

Faço a parte que me cabe
com os olhos pintados de verde,
batom laranja,
vestido azul e saltos altos
que me permitem tocar os céus.
Ando aprendendo a gargalhar!
Ontem, quando a tarde caia, perfeita para ilustrar meu poema.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

"Creio em milagres"- Rita Bittencourt

    Andam ceifando campos de flores. Ao lado, o de ervas daninhas viceja. O de flores é delicado e tomba fácil, o outro resiste à seca, parece que vai fenecer, curva-se, seca e, de repente,  brota do nada...Ah, Senhor, quais são os seus critérios? Não consigo entender, por mais que todas as doutrinas expliquem-me "Vossa Vontade e Desígnios" . Minha imperfeição e ignorância não me permitem compreende-lo, apesar de crer em Ti. Não vivo de fé, Senhor, apesar de te-la. Não vivo, mais, de esperança, mesmo que ela faça parte de mim. Não vivo mais de esperas. Já me foram dadas todas as dádivas ou sorte. Acabaram-se as ilusões. Uma pedra, é uma pedra - embora ame suas formas, uma ave é uma ave, embora ame seu mecânicos voos - o do urubu é lindo! -  uma flor é  uma flor e amo suas cores e formas, uma cobra é uma cobra e são lindas, principalmente quando não sentem-se ameaçadas. Rastejam sinuosas... E nenhum deles é bom ou mau, pois a cobra come a avezinha, que come o inseto, que pica os bichos que comem as ervas e outros bichos e a cadeia forma-se para a continuação da vida. O resto é metáfora. Até essa minha escrita... No entanto, creio em milagres, esse fenômeno que acontece quando o universo inteiro conspira para que algo aconteça, anjos, santos, o vento, a lua, o sol as estrelas e, num momento de perfeição, o impossível materializa-se independente de nossas súplicas! Aí, ajoelho-me. Ah, sim, creio em milagres!
Brincos cobrinhas. Titânio e prata.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

QUE PENA, SENHORA SÍLVIA PILZ... - Rita Bittencourt

Senhora Sílvia Pilz,

A ironia, o sarcasmo, a zombaria sempre me incomodaram muito pois na minha opinião não combinam com pessoas sinceras, íntegras, éticas. Revela, sempre, uma face escondida que um dia, aflora atabalhoadamente.  E a senhora, convenhamos, enfiou os pés pelas mãos nessa sua crônica que, antes de beirar à sátira, ao engraçado, atrelou-se ao esnobismo de, aparentemente, novo rico deslumbrado. Pois há por aí, muitíssimos novos ricos que não estão nem aí pra esses estrelismos, estão vivendo suas vidas, educando seus filhos bem e conservando seus patrimônios construídos com suor, lágrimas, e - por que não?- às vezes sangue.
Sabe por que as pessoas que a senhora chama de pobre se "arrumam" para ir ao médico? Por respeito. Banham-se, vestem roupas limpas e aguardam dignamente a vez de serem atendidas. Ninguém desmaia porque "tira" sangue. Ninguém espera, avidamente, o café com biscoitos depois. Isso é corriqueiro, senhora. Pobre se alimenta, toma café, compra roupas, usa batom, corta cabelos, estuda,  não é ignorante.  Não quer ter nódulos pois o "pobre", como a senhora chama os menos endinheirados, não é burro, sabe o que pode se esconder atrás dessa palavra. Colesterol alto, metade da população tem, e é grave, leva a doenças cardíacas, é pra se temer e cuidar. E todo mundo fala de suas doenças, seja rico , pobre, remediado. A diferença é que alguns falam delas, às vezes, tomando uma taça de espumante e com os rostos remendados e tão esticados que "ostentam" um riso -  ou ricto?-  eterno. O pobre, tem humor, senhora - o que lhe faltou, ao confundir humor com sarcasmo, zombaria.   Fala da sua doença curtindo seu churrasquinho na laje e dançando um samba que "socialite" nenhuma consegue dançar, apesar dos esforços, em suas festinhas bem regadas.  E querem procriar, sim,  no seu dizer... No meu, querem ter filhos, cria-los, educa-los, te-los amorosamente, pois o dom de ter filhos foi dado a todas as espécies onde dois gametas se encontram para a perpetuação delas. A senhora mesma foi procriada. Sonhou com isso, procriou? Deus queira que sim! E para não estender-me muito, que pena que a senhora tem inveja da felicidade. Não babe que é coisa feia!  E apesar de sua ironia e sarcasmo, temo que essa inveja seja genuína... Novamente, que pena...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

"VAI COM DEUS" - Rita Bittencourt

      Aquela mulher forte, já não se indigna. Seus olhos enegreceram-se de não ver, ocos, cavernosos...
O  coração não bate por sentir, bate por bater, apenas, por viver, pra sustentar o corpo.
E quase tudo o que ouve é truncado pois anda também ensurdecendo-se. Propositalmente? Está plena, no entanto.
     Sente o cheiro da discórdia, longe, e desvia-se dela. Quando fala, concorda,  pra não despertar olhos chispantes, palavras enviesadas e rictos de faces retesadas, envelhecidas e tristes. Mas PENSA!  E seus pensamentos não são só seus, são frutos do que viu e ouviu, do quanto conheceu aquelas pessoas que queriam falar com sua boca, queriam a cor do seu batom, os seus sapatos altos de cristal, que só ela sabia andar! E  queriam viver a sua vida... Ironia... Envelheceu, entristeceu a alma, curvou o corpo... Fazia-se de boba, ouvidos moucos, balançava a cabeça dizendo que sim, que tá bem, tá bom, o sal da comida tá muito? Precisa de uma batata, vai ficar bom, vai consertar o feijão aguado  no jantar, um pouquinho de feijão novo, cozido com pouca água, conserta...vai fazer o bife mal passado da próxima vez... vai limpar aquele chão sujo e a poeira  das da portas... vai arear aquelas panelas sem brilho, vai, vai sim! A cozinha "vai ficar um brinco"!  
Ia brigar com o mundo?
Depois, bom mesmo era ir pro seu quarto ler um livro que a transportava para todos os lugares que não queria  mais  ir, mas que, talvez,  muito provavelmente, irá sozinha, num verão qualquer, procurar gente que goste de velhos,  mesmo que não falem a sua língua mas com os quais sempre se entendeu tão bem. Com gestos, com o olhar, com o toque das mãos,