quinta-feira, 13 de abril de 2017

A FERRO E FOGO - Rita Bittencourt - Joias Autorais

A ferro e fogo
Forjo o belo
E lhe revolvo as entranhas.
Luta de dois ganhadores:
Os metais rendem-se
A força do meu braço
E a minha determinação.
Eu curvo-me
E rendo-me a sua beleza.
Viva!
Tarugo em Mokume Gane, técnica japonesa de Ourivesaria que, ao "casar" metais diversos e lhes imprimir interferências de fresas e cortes, imita a aparência de veios de madeira no metal. Amo!

quarta-feira, 5 de abril de 2017

DEDO DE DEUS - Rita Bittencourt - Joia Autoral

Gosto das linhas curvas que delineiam
A vida,
Dos círculos que não se sabe onde começam
Ou acabam,
Das cores esboçantes e pouca luz.
Amo quando esses mistérios se encontram
E me definem
Como o Dedo de Deus
Me apontando caminhos...

segunda-feira, 3 de abril de 2017

FOLHAS DE OUTONO - Rita Bittencourt - Jóias Autorais

Folhas que caem
celebrando o outono
dançam, bailam com o vento
e quedam-se no meu colo..


Joias elaboradas em prata, ouro, pérolas, muranos e laca japonesa.

segunda-feira, 28 de março de 2016

"CRIAÇÃO, CORAÇÃO DE LEÃO"... - Rita Bittencourt

 Entendo que a criação não é nossa. Somos o veículo. Ela está pronta e nos escolhe! E toma conta, e domina e manda!

- Vou colocar umas pérolas aqui!
-" Não, aqui!" - diz a criação.
- Não sei como farei essa solda...
- "Se vira. Você consegue!"
- "Acho que vai ficar cafona...
-"Não vai. Siga em frente!"
- Vou parar um pouquinho...
-"Agora, não!"
-Tou com sede...
-"Mentira!"
-E fome...
-"Você não é disso...
Enfrenta, vai..."
-E xixi?
-"Nem pensar. Faça o que eu mando!

Não faço e dá tudo errado... E começo novamente. Ai, faço.. Dá tudo certo!

Criação,
coração de leão,
que não entende coisas
de emoção,
tipo,
vai ficar bom, não...
humm, sei não...

Criação,
manda em mim
como quem não
quer nada,
metida, abusada,
destrambelhada!

-Que bom que me rendo!

segunda-feira, 14 de março de 2016

ORAÇÃO - Rita Bittencourt

Diria a Velha Sará, assim,
diante de um panelão de Frango ao Molho Pardo:
- Comi esse "de cumê" tão bom,
hoje, tão bom,
que sem sabê a escrita
não sei dizê
a tanteza dessa bondade...

Ah, minha velha querida,
eu aqui, também,
sem saber dizer a "tanteza"
do amor que tive por você...
Mesmo sabendo a escrita
e as palavras,
sendo muitas...
Eu e minha netinha, Catarina, em nossa cozinha de "fazenda", minha bá...
Ah, ela inda não pode comer Molho Pardo, cê sabe...

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

BEIJA FLOR NAO ME BEIJOU... - Rita Bittencourt


Ah beija-flor
naquele dia, nem te vi
ou bem te vi e me escondi
fugindo do teu beijo?
Não percebi,
encolhida na minha dor,
que trazias
um  beijo
 mandado por meu amor...
 
Joia elaborada em titânio colorido a fogo, prata, couro e pérolas cultivadas, de água doce. Soldas mecânicas. Peça única, já partiu...


terça-feira, 30 de junho de 2015

MEU LUGAR... - Rita Bittencourt

Há  tempos atrás, sobrevoávamos o Rio, eu e o Edinho, pra pousar no Santos Dumont. E tudo era tão grandioso e belo, e inatingível, e distante que, tomada de nostalgia comecei a falar com meu marido: Sabe, amor, não sei a que lugar pertenço... Já fui de tantos, já quis ser de tantos, já estive em tantos e moramos aqui... No entanto não sei se esse é o meu lugar...
-Como assim? - ele me perguntou.
- Amo o Rio, mas não é minha pátria, entende?
- Amo Roma, conheço suas ruelas, mas não me pertencem, não pertenço a elas... conheço o Coliseu, entende? Já vi leões devorarem homens corajosos ou acuados...
- Entendo...
- Em Paris, ouvimos Piaf cantando, quando lhe visitamos o túmulo, lembra-se? Nos abraçamos emocionados...
- Que mulher fascinante!
- Apaixonei-me por campos floridos de girassóis e lembrei-me da agonia de Van Gohg... Lágrimas me vieram ao olhos. Você me beijou...
-Fomos ao Túmulo de Madalena... Abóbadas grandiosas penderam sobre nossas cabeças...
- Verdade...
- Túmulo de Evita - onde Evita não está - vimos. Túmulos devassados com caixões expostos... A decadência da morte explorada aviltantemente... Ricoleta, Argentina...
- Macabro. Não gostei, você disse. Eu também não...
- As fotos, tantas... Não sabemos a onde pertencem... Temos o ímpeto de tira-las para  não nos esquecermos mas nos esquecemos de que lugar  foram... Trocamos os santos das igrejas, os monumentos e nos esquecemos onde compramos aquela bolsa poderosa que custou quase um carro, que usei algumas vezes e a guardei num closet, feito uma relíquia...
- E nossa chegada a Portofino, com os sinos da igreja tocando um clássico que nossa ignorância musical não nos permitiu identificar? Gravei na nossa filmadora que foi roubada... Estávamos tão felizes. O mar azul de Portofino, é azul petróleo... Mar mais lindo nunca vi!
- E a Gruta Azul de Capri? Azul turquesa... Você me deu um colar de corais. Fininhos como gravetos...
- O túmulo de Grace Kelly... Como pode aquela mulher linda e cheia de vida estar escondida alí, naquela lápide? Mônaco... Não jogamos no Cassino mas vimos uma mulher oriental perder  vinte mil dólares em cinco minutos. E continuou a jogar...
- E a Gruta de Maquiné, em Minas? Cheia de estalactites... Você segurando mamãe que, espantada com o íngrime do "adentramento", queria voltar... Mas foi até o fim!  Caverna escura e tortuosa cheia de punhais brancos que pendiam do teto...
E o Corvado, O pão de Acúcar, a Vista Chineza e tudo o mais? O Convento da Penha, em Vitória, na  minha terra, na verdade, Vila Velha? E tudo o mais que vimos, que não vimos, nem veremos, talvez você, veja daí , do seu céu de anjos?...
Eu, não quero mais... Acho que a gente andava escolhendo um lugar pra morrer abraçados...
E VENEZA, MEU AMOR, QUE AMEI, AMEI, AMEI? Gôndolas, canções, poesia... Restaurantes escondidos em vielas, escondidas por ruelas aguadas de mar... Homens bonitos nos espreitando para levar-nos ao paraíso... Você, sempre desconfiado, eu, mais afoita, você me convencendo de que poderia ser uma armadilha... E a gente saia correndo de mãos dadas, como se fugisse, fingindo estar sendo perseguidos por piratas...
E as cerejas rubras, de murano, que comprei todas, e o vendedor se espantou? Mais de cem... Os homens soprando o murano, na Ilha?
 
Já fizemos tantas loucuras! E rezávamos em todas as igrejas, mas a melhor reza foi em Assis, em 2000, eu rezando em voz alta pensando que só havia estrangeiros... Quando terminei de rezar foi um coro de AMÉM!!! Brasileiros ouvindo meus segredos , pois foi uma confissão, ano do Jubileu, onde nossos pecados, todos, seriam perdoados, se passássemos em cinco portais - portas principais, só abertas em ocasiões especiais...   Rimos, gargalhamos e saímos de lá, abençoados, fãs de São Francisco, um jovem e nobre homem que escolheu ser pobre, servir a Deus, mas interpretou, literalmente, a fala de Deus e construiu uma igreja, quando a igreja que Deus falava era a igreja de um novo "pensar e ver"... Mas ele construiu e pronto, deve ter aprendido! Pelo menos ficaram com um templo pra rezar... e cuidar dos bichinhos. Às vezes, nos grandes apertos rezo pra ele e - "pá pimba"! - sou atendida! Sei que ele acha que sou um animalzinho inquieto cumprindo o ritual de virar gente... Quem sabe?
Mas, essa introdução tão grande, que seria maior ainda, se eu seguisse meu ímpeto de escrever, é só pra dizer, sei lá, pra escolher, o lugar ao qual pertenço. Naquele tempo não sabia e não sabia, ainda, hoje!
Mas sei que pertenço ao mar azul do Rio, ao seus relevos e montanhas, a seu ar cosmopolita, à sua urbanidade generosa. Pertenço às ruas enladeiradas de São Paulo - como amo São Paulo! - às íngremes subidas e descidas de Belô. Pertenço à Vitória , minha terra, aos confins da Bahia, onde terminei de criar-me. Mas também pertenço às terras áridas que o sol torra, gretada, coalhada de animais mortos. Pertenço ao Nordeste com a persistência da enxada, "arando" a terra cheia de esperança. E às famílias grandes, cheias de meninos barrigudos, prenhes de mandioca e calangos, e terra barrenta e amarelão.
Pertenço às florestas úmidas, às estrelas cadentes, à lua cheia, às tempestades, às aguas que correm acima das calçadas,  à grama molhada de orvalho. Pertenço ao breu da noite, ao grito que ecoa nela, e gela entranhas. Pertenço às gargalhadas das mulheres noturnas, aos sons da sirenes que rasgam o espaço, apertando o peito. Sirenas são sempre mau auspiciosas... Alguém sempre está por morrer, alguém, sempre, está por perder... Mas , às vezes, está por nascer... É preciso cuidado pra julgar... Melhor dizer, " vai com Deus"...
Também pertenço ao canto que reverbera nas naves das igrejas, qualquer delas, pois meu Deus é universal!
Pertenço aos meus santos, a da Conceição, à Rita, à Catarina, aos anjos, à Deus, à Iemanjá, que um dia uma mulher parou-me na rua e pediu que não cortasse meus cabelos. Eram de Iemanjá. Cortei curtos. Danou-se! Prefiro não falar... Deixei-os crescerem...
Pertenço a você, meu amor!
Por isso, AGORA, antes não sabia,  pertenço ao Rio de Janeiro, onde você estará para sempre e onde temos nosso local de encontro.
Até um dia, espero que seja breve, meu amor!


terça-feira, 9 de junho de 2015

GATO COMEU PASSARIM - Rita Bittencourt

Andei pensando, por que escrevo, às vezes, pra estranhos... Descobri: os estranhos são solidários, isentos, não precisam "curtir" pra inflar nosso ego. O estranho é verdadeiramente sincero. Se gosta, fala, se não gosta, cala-se... É isso que eu quero! E SURPRENDEM-ME! Sempre disse que sou sortuda! Tive o melhor homem do mundo, planejei um filho que dei ao mundo e orgulho-me dele, tive uma mãe invejável, tenho um pai mentiroso pra me alegrar e sincero quando lhe convém, poi...s é o seu jeito... Isento, feliz, pleno, inteligentíssimo, meu companheiro, agora. Cheguei inda há pouco e falei: papai, trouxe uns pastéis, uns pãezinhos, vou fritar uns ovos pra nós, abrir um vinho. Daí, fritando os ovos, comecei a poetar - sempre faço poesias e bebo vinho enquanto cozinho. O de hoje é CASA DE MOURAS, RESERVA, tinto Douro, o que me faz lembrar da minha amiga, cantora das boas, Rita Porto, e seu marido Ricardo, lá da terrinha...
Pois, poetando, queimei os ovos! O papai perguntou-me, o que está escrevendo? Fazendo poemas, papai... E os ovos, minha filha? Ah, meu Deus, queimaram-se!
Vou fazer outros, o pão tá quentinho... Papai falou, sabe, minha filha, não tou com fome, tire dois pães pra mim, mais tarde eu como... Vou pro quarto...
É DISSO QUE SINTO FALTA! O MEU EDINHO GARGALHARIA POIS JÁ O FEZ MIL VEZES NAS MIL VEZES QUE QUEIMEI NOSSAS COMIDAS. Mas papai não é o meu Edinho, é meu pai, do qual cuido com o maior carinho, meu companheiro e meu amigo sincero.
Fiquei triste, aborreci-me? NÃO!
Fritei, novos ovos - amo ovos! - peguei duas taças de cristal quase centenárias, e bebi meu vinho, olhando pra taça vazia que coloquei no lugar do meu Edson , na mesa. E estou aqui escrevendo pra quem quiser ler, pra quem gostar de ler, pra quem gosta de ouvir histórias. O poema?
Nasceu de uma observação, hoje pela manhã, no quintal da casa ao lado... Pensei na Véia Sará, nossa babá, que diria assim, do poema que chamei


GATO COMEU PASSARIM
Passarim, bunitim, olhim pretim, pequenim,
avoou, pra aprendê...
tonteou, caiu no chão,
gato pegô...
Ô dó...
Tô eu, aqui,
cum o coração apertadim,
fraquim, fraquim...

Quem tá com o coração apertadinho sou eu, minha velhinha. Fraquinho, fraquinho...
Estou reaprendendo a ser feliz, na solidão. Onde quer que esteja, obrigada por ter cuidado tão bem de mim! AMOR, AMOR, AMOR!!!

FELIZ PÁSCOA, DEUS - Rita Bittencourt


Como diriam os portugueses, " estou cá, na minha cama , a chorar"... De saudades... O dia foi maravilhoso, com minha familiazinha . A Duda, está linda, foi tudo tão perfeito que nem as batatas fora do ponto para a rostie, empanaram o brilho do dia. A barriguinha da minha nora cresce e Catarina, logo, dará as caras. Fico imaginando um serzinho miúdo, que encherei de beijos e mimos...
Cozinhei para minha família, fazendo um prato que o Edinho gostava e que meus queridos quase imploraram pra eu fazer. Ficou maravilhoso! Estávamos no fogão a quatro mãos - ou seis? - eu e meu filho, e minha Duda ajudando a mexer as panelas. Tudo ficou perfeito! Mas, e o depois, meu Deus, agora que todos se foram?...
Sei que sabes o tamanho dessa solidão já que, presumo, És solitário... não deves ter amigos pra festejar - e festejar o quê?- já que tudo é tão previsível pra Ti. E o que podes festejar, Senhor, com seus filhos em guerra, matando-se, enganando-se, tramando... Não queria ser o Senhor... Tens uma fama de inatingível, as pessoas preferem recorrer aos santos... Até eu, que tanto creio, só recorro a Ti em horas de muita dificuldade, esgotados todos os apelos aos santos... Acho o Senhor muito ocupado e já dissestes pra gente fazer a nossa parte que a Sua será feita... E agora, Senhor, que estou tão só, depois do depois, sento-me aqui, diante dessa maquininha milagrosa pra conversar Contigo... Obrigada pelo tudo que me deste permitindo que eu encontrasse o verdadeiro amor... Tantos nem sabem o que é isso... Mas, perdoe-me, todo o tempo que tivemos juntos inda acho pouco. Fizemos planos de velhice juntos, havíamos acabado de reformar os banheiros, tudo preparado para, pelo menos, mais vinte anos... Aí, o Senhor decidiu que tivemos tempo demais, deve estar com falta de anjos aí no céu e levou o meu Edinho. Já me rebelei, esperneei, e descobri que com o senhor não tem lengalenga. Tá feito, aguenta a barra pois vais fortalecer-se! Eu fraquejo...
E nesse dia que Seu Filho, JESUS, ressuscitou, após morrer para nos salvar, acho que, breve, o Senhor terá que vir à terra e executar essa missão. Estamos perdidos, o mundo arde, as pessoas matam-se, jogam bombas em inocentes, tem pessoas nas ruas rasgando sacos de lixo, famintas, dormindo ao relento. Há horas que espero o milagre, pois, nele, creio, pois já o mostrastes a mim... Sou grata. Tenho fé absoluta embora discorde dos Seus critérios e o Senhor já sabe disso e tem complacência com esse serzinho arrogante que sou eu e que criastes... Sou Sua filha, imperfeita que tanto O ama e crê, mas rebelde, com resposta na ponta da língua, com a pergunta antecipando-se aos acontecimentos... Perdoe-me, não entendo, mesmo, os seus critérios, embora várias religiões o expliquem, até a minha. Mas sou sua criatura... Por que deixastes-me chegar tão perto de Ti se não podes me dar a mão? Por favor, Deus, segure minha mão... Dê-me paz, conformação, resignação, como dizia a mamãe... Humildade ante tanto sofrimento, eu que estou tão amparada e amada... Dê-me notícias desse céu que prometeste-me, um recado do Edinho, da mamãe... Ah, Deus, socorra-me nessa solidão...
Que Sua Páscoa tenha sido feliz aí no céu, a minha foi ótima e passageira, mas temo que terás uma tarefa árdua pra consertar tanto mal feito. Um anjo mau passou por aqui aniquilando os Seus e parece que estão vencendo... Vem logo que a coisa é séria!
Beijos em Maria, em Jesus e em todos os santos. Um abraço apertado dessa sua filha tão precisada, desconsolada, fazendo, das tripas, coração! Amor,
Rita

sábado, 18 de abril de 2015

"LITERATURA" - Rita Bittencourt

Um dia desses minha nora perguntou-me:
- Tia, tem durex.
- Tenho.
-Onde está?
- Vai ao escritório, no armário do lado esquerdo de quem entra, abra a terceira porta e está na prateleira de baixo.
Ela foi, voltou e, muito prática falou-me:
-Tia, bastava dizer que estava no armário...
Eu respondi, brincando:
Filha, isso é literatura...
Depois postei umas coisas no face, na verdade, repostei, e todos os meus amigos ficaram preocupados comigo... Não era literatura... Era intensidade. Intensidade de saudade, de solidão , de desesperança, de agonia e espanto. Tudo isso, mas só! (?)  Sempre fui intensa, absolutamente feliz, plena, decidida, independente, amparada, amada, amada, amada... O que vocês fariam no meu lugar? Alguns ficam anos sob um edredom, outros infernizam a vida da família toda, outros, viram zumbis, outros catatonizam-se e ninguém penetra naquela parede invisível... Eu, tão só, com um pai maravilhoso e idoso que SE protege ( os idosos  protegem-se) perscrutando-me para ver se estou feliz - faço cara de feliz, rio, brinco - um filho atencioso que inverteu os papéis e , agora me dá conselhos-perambulo por esse casarão e não vejo graça em nada. Então, escrevo. Para os amigos e para alguns estranhos que conheço o jeito, a alma... E falo do que sinto...
Sinto, sinto falta e uma saudade imensa do meu marido, não vou me acostumar nunca em não te-lo, que deixou, com sua partida, um buraco no meu peito, que melhor seria se fosse uma bomba    que me desfizesse  e me lançassem na estratosfera e eu viraria partículas , as menores delas  e me embolaria na poeira cósmica e talvez, parte de mim formasse uma estrela, uma lagarta, um grão de areia, uma gota dágua... Mas meus queridos, tão preocupados, que me ligaram,  minhas irmãs, Almeidinha, Lourdes, Cibele, Eliana, Aurê, Miriam, D. Conceição, Magaly, meu filho, eu estou bem. Bem porque sei o que quero e preciso e me esforço para estar bem. Mas não se iludam, jamais serei a mesma. Mas vou rir, vou cantar, vou me alegrar, estou retornando, devagar... Seremos felizes juntos, novamente, eu vou viver a vida que Deus me deu até o fim pois quero ver a face Dele, um dia e falar, "Sobrevivi, assim me fizestes!"... E não me reprovem por ser malcriada com Ele... Somos os melhores amigos, sempre fui protegida e amparada  e por Ele quero ser julgada. Quando sentir vontade, vou escrever, às vezes, me arrepender depois, prestarei contas a Ele. Os que julgam-me negativamente e  censuram-me, excluam-me. Não excluo ninguém por ser uma pessoa muito bem educada e respeito todos as opiniões, credos, gêneros, escolhas... Escreverei sempre sobre o Edinho, meu amor. Eu o conheci com 17 anos. Não digo quantos anos tenho agora, pois minto a idade , mas passamos muitos anos juntos. Felizes, plenos, saborosos, divertidos, aventureiros, cheios de cumplicidade e já fomos às estrelas!

Sou grata por ter sido tão privilegiada. E talvez por isso, reclame tanto, mas Deus gosta de mim e eu O amo. Meus amigos, aguentem-me! QUE TODOS TENHAM A SORTE DE CONHECER UM GRANDE AMOR! SOU  E SEMPRE FUI UMA SORTUDA!

domingo, 5 de abril de 2015

"PEDIDO TARDIO" - Rita Bittencourt

E aquela mulher sexagenária que foi apaixonada por ele a vida inteira, respondeu assim ao pedido de casamento tardio:
Não, João, agora não... Passou do tempo... Queria você com sua paixão de 20 anos, quando você era lindo e seus olhos eram um mar... Queria você vivo do jeito daquele tempo. Agora, não falas... sussurra. Não me enxergas - vê sombras e pensas que sou bela. Vens me dar o pior de ti quando eu queria o melhor, seu entusiasmo, sua galhardia  e ardência.  E chegas curvado, turvo, pra eu te carregar. Já nem me carrego...
 Agora não, João, me acostumei com a solidão! Cai a tarde...

Feliz Páscoa, Deus - Rita Bittencourt

Como diriam os portugueses, " estou cá, na minha cama , a chorar"...  De saudades...  O dia foi maravilhoso, com minha familiazinha . A Duda, está linda, foi tudo tão perfeito que nem as batatas fora do ponto  para a rostie, empanaram o brilho do dia.  A barriguinha da minha nora cresce e Catarina, logo, dará as caras. Fico imaginando um serzinho miúdo, que encherei de beijos e mimos...
Cozinhei para minha família, fazendo um prato que o Edinho gostava e que meus queridos quase imploraram pra eu fazer. Ficou maravilhoso! Estávamos no fogão a quatro mãos - ou seis? - eu e meu filho, e minha Duda ajudando a mexer as panelas. Tudo ficou perfeito! Mas, e o depois, meu Deus,  agora que todos se foram?...
Sei que sabes o tamanho dessa solidão já que, presumo,  És solitário... não deves ter amigos pra festejar - e festejar o quê?- já que tudo é tão previsível pra Ti. E  o que podes festejar, Senhor, com seus filhos em guerra, matando-se, enganando-se, tramando... Não queria ser o Senhor... Tens uma fama de inatingível, as pessoas preferem recorrer aos santos. Até eu, mesma, que tanto creio, só recorro a Ti em horas de muita dificuldade, esgotados todos os apelos aos santos... Acho o Senhor muito ocupado e já dissestes pra gente fazer a nossa parte que a Sua será feita... E agora, Senhor, que estou tão só, depois do depois, sento-me aqui, diante dessa maquininha milagrosa pra conversar Contigo... Obrigada pelo tudo que me deste permitindo que eu encontrasse o verdadeiro amor... Tantos nem sabem o que é isso... Mas, perdoe-me, todo o tempo que tivemos juntos inda acho pouco. Fizemos planos de velhice juntos, havíamos acabado de reformar os banheiros, tudo preparado para, pelo menos, mais vinte anos... Aí, o Senhor decidiu que tivemos tempo demais, deve estar com falta de anjos aí no céu e levou o meu Edinho. Já me rebelei, esperneei, e descobri que com o senhor não tem lengalenga. Tá feito, aguenta a barra pois vais fortalecer-se! Eu fraquejo...
 E nesse dia que Seu Filho, JESUS, ressuscitou, após morrer para nos salvar, acho que, breve,  o Senhor terá que vir à terra e executar essa missão. Estamos perdidos, o mundo arde, as pessoas matam-se, jogam bombas em inocentes, tem pessoas nas ruas rasgando sacos de lixo, famintas, dormindo ao relento. Há horas que espero o milagre, pois, nele, creio, pois já o mostrastes a mim... Sou grata. Tenho fé absoluta embora discorde dos Seus critérios e o Senhor já sabe disso e tem complacência com esse serzinho arrogante que sou eu e que criastes...  Sou Sua filha, imperfeita que tanto O ama e crê, mas rebelde, com resposta na ponta da língua, com a pergunta antecipando-se aos acontecimentos... Perdoe-me, não entendo, mesmo, os seus critérios, embora várias religiões o expliquem, até a minha. Mas sou sua criatura... Por que deixastes-me chegar tão perto de Ti se não podes me dar a mão? Por favor, Deus, segure minha mão... Dê-me paz, conformação, resignação, como dizia a mamãe... Humildade ante tanto sofrimento, eu que estou tão amparada e amada... Dê-me notícias desse céu que prometeste-me, um recado do Edinho, da mamãe... Ah, Deus, socorra-me nessa solidão...
Que Sua Páscoa tenha sido feliz aí no céu, a minha foi ótima e passageira, mas temo que terás uma tarefa árdua pra consertar tanto mal feito. Um anjo mau passou por aqui aniquilando os Seus e parece que estão vencendo... Vem logo que a coisa é séria!
Beijos em Maria, em Jesus e em todos os santos. Um abraço apertado dessa sua filha tão precisada, desconsolada, fazendo, das tripas, coração! Amor,
Rita
Nossa mesa de Páscoa...

terça-feira, 17 de março de 2015

"Dona de Casa de mãos atadas - Consumatum est". Rita Bittencourt

Fui hoje ao supermercado. É claro, tenho ido sempre depois que o meu Edinho partiu - ele que fazia as compras,  adorava supermercado e suas novidades, era um glutão assumido e eu, uma cozinheira, sem modéstia, das boas! Eu, detestava pois sempre fui magra e sem apetite, trazia só, o que estava na lista, obrigação de mãe de família... Só comia comida  boa, o que não quer dizer , de luxo. Sei comer todas as comidas, desde que, bem feitas, bem temperadas. Amo miolos de boi, rins mal passados, tripas, ovos e os frutos do mar todos, e todas as caças, que faço muito bem, e vegetais fresquinhos, desde o chuchu à trufa, caroçinhos de quiabo e caviar, só não gosto do tal do "foá grá"!!! Já não gostava mas quando vi como os fígados dos gansos viravam aqueles nacos suculentos, perdi o gosto, de vez! Mas, voltando ao supermercado, hoje foi diferente... Era como se o Edinho estivesse ao meu lado, me ajudando. Trouxe novidades, mimos para o papai e para o Dinho, meu cachorrinho - bifinhos vitaminados! E nunca, nunca, senti tanto a presença dele e , ao mesmo tempo, sua falta. A morte é como uma "doença ruim", como dizia a mamãe, como se existisse doença boa... Primeiro, a gente é uma expectadora, depois deixamo-nos levar, aí, a gente finge que está se acostumando, às vezes, acha que é mentira, outras, culpa Deus e o mundo, para, finalmente aceitar o consumatum est, como se diz juridicamente. Hoje, acho, foi o dia do meu consumatum est! Estou só, não tenho , mais o meu amor, tenho que tentar  ser feliz com o TUDO que me resta - e é tanto! -  senão será minha perdição!
E fui observando como as embalagens dos produtos estão diminuindo em tamanho e teor. Os preços parecem menores mas, quando eles nos tiram 30g duma barra de chocolates de 200g, que, digamos, antes, custava R$6,00, e cobram R$5,50 pelos, agora, 170 gramas, aumentaram o preço em R$ 0,40. 170g deveriam custar R$ 5,10. O preço foi aumentado! E é uma inflação perigosa pois nos engana em todos os sentidos! Meu Edinho pegaria a maquininha dele e calcularia , logo , o percentual de aumento. E fui assim, pelo supermercado, sem pressa, dando passagem, pedindo para um senhor altííiíssimo pegar o açúcar cristal pra mim que estava no alto da prateleira, ajudei uma senhorinha escolher um azeite, verdadeiramente, extra virgem, observei uma  jovem donas de casa pegar dois kg de tomates , 1 kg de arroz, e 3, de feijão... Tentei ajudar, ela não deixou... Os jovens são soberbos...
 Pedi ajuda para escolher vinhos que conhecia - daria aulas!-  só para conversar, pedi orientação para tintura de cabelos, eu, que inda não os pinto, ( preciso!) só para interagir... Elogiei as batatas fresquinhas que o funcionário arrumava , como uma pirâmide. Pensei em pegar uma lá de baixo, mas ele estava tão feliz com a arrumação que deixei a "maldade" pra quem não teria maldade, ao fazê-lo. E  - bumba! - quando ele terminou de arrumar uma senhorinha escolheu umas batatas lindas da fileira de baixo, que  carregou com as outras fileiras todas, em erosão,  e foi uma festa no supermercado, num riso único e coletivo. E abracei a velhinha e o arrumador das batatas, e rimos juntos, e eu, tão maternal, quase sapequei um beijo nos dois mas me contive, pois já me dei mal com essa minha mania de beijar...
 Com isso, gastei mais do que achava que gastaria - ando aprendendo a ser econômica com minha irmã Cristina e minha amiga Marluce, mas gastei com gosto! -  E conversei com a moça do caixa e elogiei o sorriso dela e agradeci à empacotadora, com sinceridade,  pois minhas aulas de Mocumé com o Carlos Godoy, me lesaram o ombro direito e ando poupando-o .Vi que se quiser ser feliz novamente, tenho que me virar, estou quase só, nessa!
Daí, levei meu carro pra lavar num posto novo, e elogiei a lavagem da capota vermelha que andava meio  suja -  o lavador anterior não estava acertando - "sabe como é, dona, isso é lona, tem que tê um sabão especial qui nois não tem" -  dei belas gorjetas, esperei pacientemente, o sinal abrir, para atravessar, quase saí, "cantando na chuva"! E, carregada de uma felicidade triste, dei por mim que preciso viver para não morrer.
Meu amor, vou esperar nossa nova netinha chegar, tenho que cuidar do papai, o Vina inda precisa de mim, tenho minhas irmãs pra cuidar, pois eu fiquei no lugar da mamãe, minha Rege inda precisa de mim, minha Cris, religiosa, se agarra no manto de Deus, mas, está só e não sabe, e precisa de mim, ando amando minha Tatá como se fosse minha filha, nossa Duda cresce e vai precisar de mim, tenho amigos queridos que estão me ajudando, já consigo meus minutos de felicidade todos os dias, arranjei uma terapeuta ótima que lê  a minha alma e vou ficando por aqui até quando Deus achar que é a hora da gente ser feliz juntos,  novamente! Me aguarde com festa e com todos , pois não sei ser feliz sozinha! Dê beijos na mamãe, no seu pai, na sua mãe, em todos os nossos - tia Lígia em suas ausências, mandou beijos pra você - eu disse que você estava viajando... Fizemos o encontro dos Bittencourt. Levei nossa familhinha...
 Foi bárbaro!
 Cuide-se, fortaleça-se, não fique triste por mim. Estou bem, quase feliz pois só serei, plenamente, feliz, com você. Amor, amor, amor!
P.S.: O Dinho não quis almoçar. Só quer saber dos "bifinhos vitaminados"! KKKKKKKKKKKKKKKKKK!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"" A parte que me cabe" - Rita Bittencourt

Busco os mistérios, seus encantos
a surpresa, o enlevo.
Busco a tênue linha entre o sim e o não,
o fim escuro do poço,
a luz em explosão depois,
o mais e seus limites,
a plenitude do menos,
a embriaguez dos voos,
a agonia da queda e o assombro.
Insisto, persisto, nunca desisto.
Choro, esperneio, sou fera, sou santa,
não devo, não cobro,
não me furto, não fujo.
Já vi, ouvi, falei, defendi, vivi, intuí, acertei, errei,
mas não dei a cara à tapa! Caras, não estapeei...
Carne viva,
já morri mil vezes,
nada mais me espanta...

Faço a parte que me cabe
com os olhos pintados de verde,
batom laranja,
vestido azul e saltos altos
que me permitem tocar os céus.
Ando aprendendo a gargalhar!
Ontem, quando a tarde caia, perfeita para ilustrar meu poema.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

"Creio em milagres"- Rita Bittencourt

    Andam ceifando campos de flores. Ao lado, o de ervas daninhas viceja. O de flores é delicado e tomba fácil, o outro resiste à seca, parece que vai fenecer, curva-se, seca e, de repente,  brota do nada...Ah, Senhor, quais são os seus critérios? Não consigo entender, por mais que todas as doutrinas expliquem-me "Vossa Vontade e Desígnios" . Minha imperfeição e ignorância não me permitem compreende-lo, apesar de crer em Ti. Não vivo de fé, Senhor, apesar de te-la. Não vivo, mais, de esperança, mesmo que ela faça parte de mim. Não vivo mais de esperas. Já me foram dadas todas as dádivas ou sorte. Acabaram-se as ilusões. Uma pedra, é uma pedra - embora ame suas formas, uma ave é uma ave, embora ame seu mecânicos voos - o do urubu é lindo! -  uma flor é  uma flor e amo suas cores e formas, uma cobra é uma cobra e são lindas, principalmente quando não sentem-se ameaçadas. Rastejam sinuosas... E nenhum deles é bom ou mau, pois a cobra come a avezinha, que come o inseto, que pica os bichos que comem as ervas e outros bichos e a cadeia forma-se para a continuação da vida. O resto é metáfora. Até essa minha escrita... No entanto, creio em milagres, esse fenômeno que acontece quando o universo inteiro conspira para que algo aconteça, anjos, santos, o vento, a lua, o sol as estrelas e, num momento de perfeição, o impossível materializa-se independente de nossas súplicas! Aí, ajoelho-me. Ah, sim, creio em milagres!
Brincos cobrinhas. Titânio e prata.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

QUE PENA, SENHORA SÍLVIA PILZ... - Rita Bittencourt

Senhora Sílvia Pilz,

A ironia, o sarcasmo, a zombaria sempre me incomodaram muito pois na minha opinião não combinam com pessoas sinceras, íntegras, éticas. Revela, sempre, uma face escondida que um dia, aflora atabalhoadamente.  E a senhora, convenhamos, enfiou os pés pelas mãos nessa sua crônica que, antes de beirar à sátira, ao engraçado, atrelou-se ao esnobismo de, aparentemente, novo rico deslumbrado. Pois há por aí, muitíssimos novos ricos que não estão nem aí pra esses estrelismos, estão vivendo suas vidas, educando seus filhos bem e conservando seus patrimônios construídos com suor, lágrimas, e - por que não?- às vezes sangue.
Sabe por que as pessoas que a senhora chama de pobre se "arrumam" para ir ao médico? Por respeito. Banham-se, vestem roupas limpas e aguardam dignamente a vez de serem atendidas. Ninguém desmaia porque "tira" sangue. Ninguém espera, avidamente, o café com biscoitos depois. Isso é corriqueiro, senhora. Pobre se alimenta, toma café, compra roupas, usa batom, corta cabelos, estuda,  não é ignorante.  Não quer ter nódulos pois o "pobre", como a senhora chama os menos endinheirados, não é burro, sabe o que pode se esconder atrás dessa palavra. Colesterol alto, metade da população tem, e é grave, leva a doenças cardíacas, é pra se temer e cuidar. E todo mundo fala de suas doenças, seja rico , pobre, remediado. A diferença é que alguns falam delas, às vezes, tomando uma taça de espumante e com os rostos remendados e tão esticados que "ostentam" um riso -  ou ricto?-  eterno. O pobre, tem humor, senhora - o que lhe faltou, ao confundir humor com sarcasmo, zombaria.   Fala da sua doença curtindo seu churrasquinho na laje e dançando um samba que "socialite" nenhuma consegue dançar, apesar dos esforços, em suas festinhas bem regadas.  E querem procriar, sim,  no seu dizer... No meu, querem ter filhos, cria-los, educa-los, te-los amorosamente, pois o dom de ter filhos foi dado a todas as espécies onde dois gametas se encontram para a perpetuação delas. A senhora mesma foi procriada. Sonhou com isso, procriou? Deus queira que sim! E para não estender-me muito, que pena que a senhora tem inveja da felicidade. Não babe que é coisa feia!  E apesar de sua ironia e sarcasmo, temo que essa inveja seja genuína... Novamente, que pena...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

"VAI COM DEUS" - Rita Bittencourt

      Aquela mulher forte, já não se indigna. Seus olhos enegreceram-se de não ver, ocos, cavernosos...
O  coração não bate por sentir, bate por bater, apenas, por viver, pra sustentar o corpo.
E quase tudo o que ouve é truncado pois anda também ensurdecendo-se. Propositalmente? Está plena, no entanto.
     Sente o cheiro da discórdia, longe, e desvia-se dela. Quando fala, concorda,  pra não despertar olhos chispantes, palavras enviesadas e rictos de faces retesadas, envelhecidas e tristes. Mas PENSA!  E seus pensamentos não são só seus, são frutos do que viu e ouviu, do quanto conheceu aquelas pessoas que queriam falar com sua boca, queriam a cor do seu batom, os seus sapatos altos de cristal, que só ela sabia andar! E  queriam viver a sua vida... Ironia... Envelheceu, entristeceu a alma, curvou o corpo... Fazia-se de boba, ouvidos moucos, balançava a cabeça dizendo que sim, que tá bem, tá bom, o sal da comida tá muito? Precisa de uma batata, vai ficar bom, vai consertar o feijão aguado  no jantar, um pouquinho de feijão novo, cozido com pouca água, conserta...vai fazer o bife mal passado da próxima vez... vai limpar aquele chão sujo e a poeira  das da portas... vai arear aquelas panelas sem brilho, vai, vai sim! A cozinha "vai ficar um brinco"!  
Ia brigar com o mundo?
Depois, bom mesmo era ir pro seu quarto ler um livro que a transportava para todos os lugares que não queria  mais  ir, mas que, talvez,  muito provavelmente, irá sozinha, num verão qualquer, procurar gente que goste de velhos,  mesmo que não falem a sua língua mas com os quais sempre se entendeu tão bem. Com gestos, com o olhar, com o toque das mãos,

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

"Tarde de Milagres" - Rita Bittencourt

 Caia a noite,  a chaleira apitou.
 Ferveu a água do chá....
Mas a moça não se levantou
ficou, ali, olhando o vapor subir como fumaça.
Uma borboleta passou pela janela,
deu uma volta longa, no ar, e voltou,
buscando a luz da cozinha, acesa.
Entrou sem cerimônia. Era uma mariposa
de olhos negros nas asas marrons
Linda!
Inadvertidamente
voou sobreo vapor  da chaleira.
Caiu no fogão, debateu-se e quedou-se.
A moça, triste, não quis mais chá...
Tomou a mariposa nas mãos
e o pó da sua penugem tingiu-lhe os dedos.
Delicadamente levou-a
para o resto de luz que partia, lá fora.
Jogou-a pro ar e ela voou
rumo a uma estrela,
a primeira, que brilhava
naquela tarde de milagres.

sábado, 27 de setembro de 2014

"A MOÇA, AS BORBOLETAS, A MENININHA E A LESMA" - Rita Bittencourt

Há um lado sagrado, da cama,
onde borboletas azuis pousam,
manhãzinha.
A moça, quando acorda,
emaranha-se nelas,
leve como algodão,
pra não ferir-lhes as asas translúcidas,
 orvalhadas de infinito.
E, rígida, ali fica
coberta de borboletas
que lhe tomam inteira,
deixando apenas o rosto nu,
como morta.
E a terra lá fora
arde e ruge,
meninos são mortos
e velhinhos tristes
caminham como lesmas,
lentos, cabisbaixos. Não têm mais, futuro...
E a moça lembrou-se
que uma menininha, ao encontrar uma lesma
lesmejando numa pedra,
virou-se para a avó e disse:
-"vó a concha tá com a língua de fora"!
Menininha inocente, não sabe que a lesma,
 como a moça deitada,
 
estavam inteiras, escancaradas de esperas,
sedentas, plenas de apelos,
com a cara e o corpo de fora,
 para os tapas do mundo.
Mas a moça, abraçada por suas borboletas,
encasulada de azul,
estava quase feliz, deitada naquele lugar sagrado,
 da cama...
 




domingo, 21 de setembro de 2014

"FELIZ ANIVERSÁRIO" - Rita Bittencourt

     Hoje fiz outro almoço de aniversário pra comemorar com minha "familhinha" de cá. Vieram todos e veio o "meu cachorro do meu filho", o Bóris, Bólinho, por quem fiquei perdidamente apaixonada. Nos abraçamos e nos beijamos com paixão - nunca pensei que fosse beijar cachorro! -  e eu sempre fico com sequelas: Rodelas roxas dos carinhos dele, meu amor bandido, que com seis meses já pesa 25 kg. O coração flutuando de notícias boas...  Mas, voltando ao almoço, cortei temperos - pilhas de tomates, cebolas, alhos - e fiz um Arroz de Polvinhos Bebês - tadinhos... - e Bacalhau à Espanhola. Pra arrematar, cuscuz com morangos em calda. Vinho e licor... Começou na cozinha - preciso de plateia - onde todos tomam um vinhozinho pra começar. A mesa, na sala, foi posta por muitas mãos. Todos ajudando... Contemplo do alto da minha maturidade o que construímos... felicidade, amor, solidariedade, harmonia, respeito, amigos... Emocionei-me sentada no lugar do meu marido e percebi que envelheço... Não havia tido, ainda, essa consciência, plena. Estou gostando... Dai, almoçamos como reis e, graças a Deus, ninguém se lembrou de cantar parabéns pois eu ia chorar! Aí, minha família partiu, papai retirou-se mais cedo e foi descansar. Fiquei só.  Na cozinha, na pia, pilhas de pratos grandes e brancos aguardam cuidados, segunda-feira. Fui para meu quarto, coloquei num programa qualquer e, quando "não vi" dormi! Acordei com os Beatles tocando na TV. E o tempo todo que eu dormia eu ouvia as músicas, pode? Acordei de vez, emocionada... Não troquei o canal! Como pode? E lembrei-me do Edson que um dia me pediu:
 - Fia, se um dia eu ficar de cama, sem poder manifestar-me, põe música pra mim?
 - Coloco, meu amor, todas, as mais lindas, não sairei de perto de você, serei suas mãos, seus pés, seus olhos, seus ouvidos, lhe cobrirei de beijos, passarei o calor de meu corpo pra você, ficaremos abraçados...  E nos emocionamos, nos beijamos e ele deu sua risada linda pra conter meu choro que aflorava, beijou meus olhos e disse que isso nunca iria acontecer, pra eu não entristecer-me... Não aconteceu, ele partiu, não da doença, mas da anestesia que não o deixou, mais, acordar!
     Como ando procurando um sinal, procurando- o por aí, pedindo a Deus a graça de permitir que o meu amor se comunique comigo fora dos sonhos, acho que, finalmente, tive a graça, o sinal, com a música que ele tanto amava... Ele a colocou para velar meu sono...
    Sonho com ele sempre, inclusive esta noite em que nos mudávamos para uma casinha antiga e simples com o reboco despencando e as janelas com a tinta descascada - eram três - que, longas e verdes, iam quase até o teto e lembro-me que estava feliz, feliz. E pra disfarçar a simplicidade e a ação do tempo, colocava cortinas nelas, estampadas de azul e verde esfumaçado, um estampado meio marmorizado, como tecidos pintados à mão. E nos abraçávamos, conversávamos e nos beijávamos tanto, e era tão real, e o sonho foi tão longo que acho que durou a noite inteira!
     Nesse momento inda ouço os Beatles: Oh! Darling, It's only love, This boy, And i lover her, Penny Lane,  Girl, Ticket to ride e por aí vai...
     A mesa onde almoçamos aguarda, também, a segunda-feira. Ainda tem por lá, duas taças de vinho vazias e uma de licor, uma garrafa de um tinto ótimo que aqueceu nossos corações e a solidão de uma mesa desarrumada dizendo que todos se foram...
     Nesse momento ouço Michelle... Repito baixinho a letra da música: " meu bem, eu te amo, eu te amo, eu te amo"!
    Foi um FELIZ ANIVERSÁRIO, MEU AMOR! Obrigada pela música! Os Beatles são o máximo!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

FALANDO DE MULHER... Rita Bittencourt

 
 
ALEGRIA é para mulheres corajosas
-cuidado, causa inveja.
BELEZA é para mulheres ousadas
- bastam-se e não vivem por ela.
CORAGEM é para mulheres de fé
-não curvam-se e nem quedam-se.
GENTILEZA é para mulheres sinceras
-flui como canto d'anjos.
TRISTEZA é para mulheres pacientes
- passa e volta, passa e volta...
SOLIDÃO é para mulheres que bastam-se
- saem da toca quando é a hora.
FELICIDADE é para mulheres que merecem
- buscam-na, não desistem, resistem, esperneiam
alardeiam, retêm-na.
AMIZADE - ah, deixa pra lá... é coisa pra dar...
AMOR é para todas - AGARRE-O!
VELHICE é para mulheres que amam-se, que amam
-alegram-se, são belas, corajosas, gentis, tristes ou felizes.
Desceram aos infernos e subiram aos céus muitas vezes...
Só morrem quando Deus quer!
 
Eu e minhas irmãs no meu atelier, no ano passado. AMIZADE!

domingo, 3 de agosto de 2014

VESTIDA PARA AMAR - Rita Bittencourt

 
 
 
Se eu tivesse um vestido desse o meu amor me diria: linda!
Se eu não tivesse um vestido desse o meu amor me daria.
E dançaria comigo em nossa sala onde estaria instalada
uma orquestra invisível de violinos e contra baixos que fremiam.
Me conduziria, com leveza, aos céus
e nos abraçaríamos
e nos beijaríamos
e nos estreitaríamos, tanto,
que, por esse abraço,
ele não partiria
 ou teria me levado junto.
Ainda estaríamos dançando...
Nas nuvens, meu amor...

segunda-feira, 30 de junho de 2014

"Gato Azul" - Rita Bittencourt

Há um gato azul no muro de pedra,
estático, olhar verde longínquo...
Um pássaro pousa em seu dorso,
 uma varejeira azulada rodopia em volta
e uma folha cai suavemente e dança
sobre ele.
Gato... gatinho?
Gato por que não me olha com seu
olhar de esperança?
O gato azul está morto, petrificado.
Talvez  vague no seu céu de gatos...
Um arrepio percorre minha alma.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

"kOMBI DE MUDANÇAS" - Rita Bittencourt

 
 
         Tenho todos os motivos para nostalgia, para o choro, para revirar os baús... Hoje dirigi, chorando, atrás de uma Kombi de mudanças - é, elas ainda existem. Lembrei-me das minhas conversas com o Edson e da dialética que um carro desses gerava entre nós. Eu, sempre nostálgica divagava entre o que estavam sentindo... Aquela família encarapitada na carroceria, uma mãe e umas crianças na boleia quase abraçados, uma certa tensão. O motorista cuidadoso e devagar. O que parecia o pai, às vezes com um, dois  garotos maiores que pareciam filhos, tentavam segurar colchões teimosos e trouxas de roupa pulando lá atrás. Um fogão, uma geladeira velha, umas guardas de cama, umas cadeiras toscas uma televisão magistralmente repousada no colo do pai, segurando-a com uma mão, deixando a outra para as eventualidades... Nessa mudança uma bandeira do Brasil tremulava na mão de um dos meninos e uma gravura de Mona Lisa, emoldurada de negro, sem vidro, tinha o seu sorriso enigmático transpassado pelo que parecia uma vara de pipa pois a cauda, de papéis de seda verde e amarelo, serpenteava ao vento saindo de trás do quadro. Os olhares atentos para que nada se perdesse. Não nos olhavam, olhavam o infinito atrás de nós ou o futuro à frente. E eu pensava e dizia para o Edinho quando isso acontecia e aplicava-se perfeitamente à situação de hoje:
-Acho que não nos olham porque têm vergonha.
-Né não, é o vento que não os deixa fitar. O vento corta o olhar - dizia ele.
- Parece que é tudo o que têm...
- Mas eles estão juntos, a família está unida - dizia ele.
- É, mas são tão pobres...
- Mas parecem felizes. Vê-se expectativa, zelo, esperança...
- Estão tão sujos...
-Mas estavam trabalhando na mudança. Lembra-se das nossas? Lembra-se do quanto você trabalhava  para embalar os cristais e as porcelanas, coisa que não deixava ninguém fazer? Ficava com a roupa imunda, o nariz sujo de pó, com os cabelos duros e linda, assim...
- Lembro-me... Eu ficava tão feliz com nossas mudanças. Tenho alma cigana...
- Pois é... e arrumar a casa nova? Não era tão bom? E dormir no chão no meio das caixas sobre um edredom? Fazer amor no chão? É o máximo!
 - É mesmo, meu amor...
- Não fique triste, eles estão bem - concluía.
E segui aquela Kombi atabalhoadamente, instintivamente, automaticamente, lágrimas caindo, anuviando  o caminho e quando me dei conta enveredava-me pela entrada do Morro do Dendê. Sem ter como recuar, ruela estreita, segui-os até parar pra perguntar como voltava pois já estava lá em cima. A vista, maravilhosa! O povo todo solícito veio me ajudar e crianças enfiavam as carinhas pela janela, curiosos, em algazarra. A Kombi perdeu-se, como uma cobra gorda, subindo a ladeira... Voltei chorando de emoção e de saudade. Todos tão felizes. Pobres e felizes como você dizia...
Obrigada por ter me ensinado tantas coisas... Obrigada, amarei você sempre, meu amor! 
 
 


quarta-feira, 18 de junho de 2014

"TOQUE EM DOBRE" - Rita Bittencourt


    É hora
do toque em dobre, dos sinos,
apunhalando gritos sem festa,
desconsolados em seus ecos, reverberando
nos carros que escoam
nas veias vivas das ruas sujas,
vagando no ar.
É hora
 do toque em dobre, dos sinos
que choram Marias sem ais,
meninas perdidas em desamor.
Dobram também
por meninos de olhos parados
mergulhados em latas de cola
enfiando a cara no oco escuro
do poço seco, fantasmagórico...
É hora
do toque em dobre, dos sinos,
que choram ruas ensanguentadas
e  dedos retesados, no gatilho.
Choram meninos mortos
e mães cansadas, esquálidas,
com seus lutos intermináveis,
sem lágrimas para consolo, secas,
olhos parados, sem ver.
É hora
do toque em dobre, dos sinos,
de repicar pelas águas
de janeiro a dezembro,
sujas, enlameadas,
que não alentam as entranhas da terra.
Antes, secam e gretam as almas.
Dia haverá que os sinos dobrarão por nós,
por nossos fantasmas...
 
Foto tirada em fevereiro de 2013, cálice de vinho, num jantar meu e do Edinho, quando a luz incidiu magicamente sobre o "suor" da taça gelada. E peguei minha câmera e fiquei, ali, tirando fotos, ele, olhando-me encantado com meu encanto... Daria minha vida por aquela noite!
 


sexta-feira, 13 de junho de 2014

"Brincos Caracois" - Rita Bittencourt

Safra antiga...
Quando mostrei pra ti
ganhei um beijo por cada "bolinha"...
E foram tantos beijos mais, meu amor!
 
Técnicas de murano sobre prata e ouro "marmorizado", desenvolvidas através de experimentação, e pérolas de água doce.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

PARA RETER VOCÊ...




Busco seu cheiro em suas roupas
mas elas foram lavadas enquanto estava ausente.
Restou  usada, a camisa de malha,
com a qual dormia e sua coberta.
De tanto que as usei,
e abracei, e beijei,
e as molhei de lágrimas,
para reter você,
pegaram meu cheiro, meu amor.
Mais que isso,
nossos cheiros se misturaram
e resta a nossa essência.
Camisa azul velha,
colcha de piquê azul clarinho...
Não sei o que farei quando as perder,
quando de nós  só restar
o cheiro de roupa suja e mofada....
Preparo-me para ver apenas
uma camisa e uma colcha velha,
em tempo de partir.
Afinal, se pessoas se vão,
coisas, por que não?

quarta-feira, 16 de abril de 2014

PROTEÇÃO


Fui caminhar, indagorinha. Tarde cinzenta e fria... Já não aguentava mais meu quarto me abraçando e tomando-me por inteiro, já não aguentava mais estar mergulhada naquela cama imensa sob um edredom que tem se apossado de mim, me envolvendo como se fosse um casulo. Eu me sentindo uma lagarta emaranhada em fios invisíveis sem saber o que fazer pra virar borboleta, querendo, na verdade, não virar, ficar ali para sempre. A televisão,  com vida própria, falando as coisas dela, o miado dos gatinhos da vizinha clamando por mãe, por comida, o som dos carros  correndo lá fora, vestígios de vida... Resolvi, vou caminhar! Tá tarde, eu sei, pode ser perigoso mas já passei tantos perigos nessa vida... E fui! Ruas desertas, o mar encapelado, a luz do dia partindo... E avistei um homem que vinha há uns 300 metros... Andava gingando. Mudei de "faixa". Ele também. Dei alguns passos e mudei novamente. Ele também. Aí, inflei o peito e enfrentei. Olhos nele, determinada. Caminhamos como num duelo. E qualquer medo ou receio que pudesse haver em mim sumiu de repente e pensei no meu Edinho: Ele deve estar aqui comigo me protegendo como sempre fazia. Deve tá voando sobre mim de braços abertos feito o Redentor e se esse homem vier fazer alguma coisa comigo o meu amor que agora, no céu, deve ter curado o coração e estar forte pra chuchu,  dará um murro tão forte  nele  que o jogará, voando,  no mar. E sei que vou ouvir sua gargalhada ao ver o pobre coitado tiritando de frio nessa noitinha cinzenta, lutando com as águas ondulantes e geladas da baia suja.
 A mais ou menos três metros de mim o homem desviou  pois me mantive firme torcendo, já na confiança e atrevimento, pra a imaginação se fazer real e eu saber com certeza  que o meu amor estava ali. Nos olhos do homem, quando passou por mim, olhando-me de soslaio, havia um brilho estranho... Tive a certeza! 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Em cada canto dessa casa...

Há uma ausência em cada canto dessa casa, incompleta sem ti... Meus passos arrastam-se e meu corpo, leve, agarra-se  ao chão com  peso de mil anos, ávido de ficar ali para sempre, inerte, sem vontades... Os lugares já não são os mesmos sem tua presença. Cada canto  silencioso, meio que chora minha dor. Sua cadeira , lá fora, onde via os passarinhos e dava  conta de todas as flores
 e folhas que nasciam, espera teu retorno. Lá, sentava-se à tarde e comentava do bando de patos que passavam grasnando, da cor do crepúsculo, do Cristo de braços abertos no cimo de sua montanha, do espelho d'água que a baia formava sem o vento... Conversávamos, falávamos da vida, do nosso filho, da nossa família, do que vivemos, da sorte de termos nos encontrado um dia. E me chamava de linda, meu amor, Fia, Fioca e me olhava com o olhar cor de mel mais lindo e amoroso do mundo. Nos abraçávamos, nos beijávamos... Sinto tua presença, busco em cada canto teu vulto, o eco de tua gargalhada, o calor do teu abraço, teu cheiro, teu canto pois sabia todas as músicas... Sinto tanto a tua falta, há tanta saudade em mim que, tomada dela flutuo em agonia. Penso que nunca mais serei feliz pois nossa felicidade foi tão grande e plena que nem nós mesmos a repetiríamos. Ah, como fomos felizes, meu amor. Como fomos felizes... Aguardo ansiosa o dia em que eu possa ir pra ti. AMOR, AMOR, AMOR!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

"MINHA MÃE" - Rita Bittencourt

A luz difusa iluminava os cabelos dela,
que eram lindos, plumbios, em cachos
e os olhos de mel, pesados de sombras e cílios ralos
pestanejavam na solidão do silencia. Plitz, plitz...
Quase tristes...
Fitava longe... Acho que nem via aquela máquina antiga de tirar fotos
onde um homem escondido sob um pano preto colhia "milagres".
Naquele momento o mundo era assim, aquela caixa que a continha,
eternizando-a como uma joia de família...
 
Amor, mamãe. Saudades...
Dois anos e quatro meses... Dê notícias, por favor...
 
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

"Engula as Lágrimas" - Joia autoral - Rita Bittencourt


ENGULA AS LÁGRIMAS!
Quando lhe falaram - Engula as lágrimas! - em tempos tão distantes,
engoliu todas, uma a uma, e reteve-as nas entranhas.
Assim aprendeu a guarda-las. E foram tantas, tantas, que, engolidas,
empedraram, escondidas no oco do seu ser.
E o peso dessas lágrimas que pesavam tanto, arqueou-a.
E, jovem, ficou velha, lenta em gestos,

prenhe de pranto,
olhos embaçados e tristes,
 mira perdida no infinito.
E por lá ficou
aquele olhar quedado,
parece que para sempre.
Diziam que era louca...


Joia Autoral elaborado em titânio, "bordado" em nuances matizados, técnica desenvolvida pela autora. Prata, pérolas cultivadas e contas de ametista.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Tenho mania de abraçar e beijar. Parei, fui mal interpretada algumas vezes... Certa vez num desses cursos livres de joalheria, no SENAI, tinha uma aluna, mulher madura, gordinha, quase feia, sem ser, de olhar e aspecto triste, colega de turma. Estava sempre quieta, absorta, trabalhando AVIDAMENTE, arqueada sobre o exercício, como se o escondesse. Lá pro fim do curso, a turma já entrosada, antes do intervalo para o lanche, cheguei perto daquela solidão que ela passava, dei-lhe um beijo no ombro e passei a mão na sua cabeça. Um gesto de solidariedade, de afeto por aquela pessoa tão escondida dentro de si mesma... Pouco depois, no "recreio", estava quase a turma toda reunida. As mulheres conversavam baixo, como se confabulassem e quando me aproximei, todas se calaram, meio assim, "onde coloco minhas mãos"? Dirigi-me ao grupo e ninguém conversou comigo. Saí, sem graça, disfarcei e fiquei pensando, "o que fiz de errado, por que me alijaram? Descobri que foi o beijo gratuito, o carinho, mal interpretado... Françoise Sylvia Perret deve lembrar-se disso pois estava no grupo e no dia seguinte passou-me um texto por e-mail, um estudo sobre a importância do abraço, onde umas pessoas na rua distribuíam abraços gratuitos. Parece-me que isso correu o mundo... Eu que sempre fui tão amada, beijada e abraçada praticava esses afetos gratuitamente quando achava necessário, quando via alguém triste e solitária, arisca, em defesa, sem nenhuma outra conotação que não fosse o de dizer "EU TE AMO COMO AMO O UNIVERSO INTEIRO, COMO AMO TODOS OS SERES, O DIA, A NOITE, EU TE ABRAÇO E TE BEIJO POIS SOU GRATA E FELIZ E QUERO UM POUCO DISSO PARA TI"! O que será que pensaram ou falaram de mim? Pode um beijo, um carinho, fazer mal? Quando terminou o curso, na frente de todos, fiz questão de abraçar Françoise, bem apertado, mostrando a importância do abraço, do afeto e distribuí um poema para todos, que não tinha nada a ver com o episódio, mas que falava de gratidão e esperança.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A sabedoria

1" O bom nome é melhor
do que um perfume finíssimo,
e o dia da morte é melhor
do que o dia do nascimento.
2 É melhor ir a uma casa onde há luto
do que a uma casa em festa,
pois a morte é o destino de todos;
os vivos devem levar isso a sério!
3 A tristeza é melhor do que o riso,
porque o rosto triste
melhora o coração.
4 O coração do sábio
está na casa onde há luto,
mas o do tolo, na casa da alegria.
5 É melhor ouvir
a repreensão de um sábio
do que a canção dos tolos.
6 Tal como o estalo de espinhos
debaixo da panela,
assim é o riso dos tolos.
Isso também não faz sentido.
7 A opressão transforma o sábio em tolo,
e o suborno corrompe o coração.
8 O fim das coisas é melhor que
o seu início,
e o paciente é melhor que o orgulhoso.
9 Não permita que a ira domine depressa
o seu espírito,
pois a ira se aloja no íntimo dos tolos.
10 Não diga: "Por que os dias do passado
foram melhores que os de hoje?"
Pois não é sábio fazer esse tipo de pergunta.
11 A sabedoria, como uma herança,
é coisa boa, e beneficia aqueles
que veem o sol.
12 A sabedoria oferece proteção,
como o faz o dinheiro,
mas a vantagem do conhecimento é esta:
a sabedoria preserva a vida
de quem a possui.
13 Considere o que Deus fez:
Quem pode endireitar
o que ele fez torto?
14 Quando os dias forem bons,
aproveite-os bem;
mas, quando forem ruins,
considere:
Deus fez tanto um quanto o outro,
para evitar que o homem descubra
alguma coisa sobre o seu futuro.
15 Nesta vida sem sentido
eu já vi de tudo:
Um justo que morreu
apesar da sua justiça,
e um ímpio que teve vida longa
apesar da sua impiedade.
16 Não seja excessivamente justo
nem demasiadamente sábio;
por que destruir a você mesmo?
17 Não seja demasiadamente ímpio
e não seja tolo;
por que morrer antes do tempo?
18 É bom reter uma coisa
e não abrir mão da outra,
pois quem teme a Deus
evitará ambos os extremos.
19 A sabedoria torna o sábio
mais poderoso
que uma cidade guardada
por dez valentes.
20 Todavia, não há um só justo na terra,
ninguém que pratique o bem e nunca peque.
21 Não dê atenção
a todas as palavras que o povo diz,
caso contrário, poderá ouvir
o seu próprio servo falando mal de você;
22 pois em seu coração você sabe
que muitas vezes você também
falou mal de outros.
23 Tudo isso eu examinei mediante a sabedo­ria e disse:
Estou decidido a ser sábio;
mas isso estava fora do meu alcance.
24 A realidade está bem distante
e é muito profunda;
quem pode descobri-la?
25 Por isso dediquei-me a aprender,
a investigar, a buscar a sabedoria
e a razão de ser das coisas,
para compreender
a insensatez da impiedade
e a loucura da insensatez.
26 Descobri que
muito mais amarga que a morte
é a mulher que serve de laço,
cujo coração é uma armadilha
e cujas mãos são correntes.
O homem que agrada a Deus
escapará dela,
mas o pecador ela apanhará.
27 "Veja", diz o mestre, "foi isto que desco­bri:
Ao comparar uma coisa com outra
para descobrir a sua razão de ser,
28 sim, durante essa minha busca
que ainda não terminou,
entre mil homens
descobri apenas um que julgo digno,
mas entre as mulheres
não achei uma sequer.
29 Assim, cheguei a esta conclusão:
Deus fez os homens justos,
mas eles foram em busca
de muitas intrigas."
ECLESIÁSTICO

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

"NÃO IMPORTA, A ÁRVORE" - Rita Bittencourt

 
        Um homem estacionava seu caro todas as manhãs, embaixo duma árvore frondosa e florida. Sombra farta e fresca, carroceria salpicada de florinhas vermelhas - flamboyant... Á tarde, pegava seu carro e partia célere, o carro arejado, deixando as flores caírem pelo caminho. Era olhado com um certo romantismo pois passava salpicando o solo das flores que voavam - flores de um vermelho coral típico daquela árvore - até sumir na curva... Era tido como um homem bom, era amado pelas flores que deixava para trás, pela constância dos hábitos, pela aura de encanto que tudo isso lhe conferia. Certo dia, à tarde,  ao chegar,  a árvore que estava bichada jazia no solo, separada em pedaços, para o lixo. Por segurança - sabem como os flamboyants apodrecem, foi tombada. E aquele homem que aproveitou-se anos e anos da sua sombra e da alegria de suas flores, começou a esbravejar e chutar  os tocos estocados e a lamentar como seu caro estava quente e sujo. E a limpar com raiva  as flores vermelhas que coalhavam a carroceria do seu carro. Saiu desembestado e nenhuma flor voejou atrás como borboletas. Nunca mais voltou. É, assim é a vida, são assim os homens, somos assim...

domingo, 29 de dezembro de 2013

"CONVERSAS COM MARIA" - Rita Bittencourt






Maria é uma mulher bonita , elegante, cheirosa. Agora está apenas cheirosa. Incrível como a idade e a amargura  apagam os traços antes marcantes e belos, o entusiasmo de disfarçar aqueles traços desfavoráveis com um batom, uma franja, um lápis no olho.
- Partiram todos.
-É eles partes...
- E quando vêm têm o desconforto dos estranhos. Perscrutam o teto, falam do tempo, cruzam e descruzam as pernas, não sabem onde colocar as mãos.
- É verdade...
- Não fixam os olhos em nós, como se lhes pudéssemos ler as almas.
-É...
-Almas que conhecíamos tanto...
- É mesmo...
- Almas que mudaram tanto. O que trazem nelas que não vemos mais?
- Não sei. Mudaram...
-Têm medo de que lhes desnudemos as entranhas.
- Talvez...
- Será que mudaram tanto, que não os conhecemos mais?
- Talvez...
- E essa casa que nos dias de festas era tão alegre? Sempre fiz questão de gruda-los em mim nessas épocas de Natal e Ano Novo. Isso aqui fervilhava... Uma alegria só, os fogos pipocavam ao redor, estrelas caiam por todos os lados, eu lá e cá dando beijos e abraços em todos, José,  hoje tão doentinho, naquela alegria toda, observando a festa e gargalhando. Isso aqui coalhava de amigos que não tinham pra onde ir, que solicitavam  "convite" (?) pra cear. Acolhíamos estranhos que hoje nos vêm e nos desconhecem.  Champanhe, comidas, frutas, doces... E sempre cabendo mais um, que chegava pelo meio da noite...
- Estive por aqui em todas, em todos os momentos, em toda a sua vida...
-É você nunca me abandonou.
-Não posso...
- Por que não pode? Todos fazem isso, mais cedo ou mais tarde!
- Inda não é a tempo, Maria, não é do meu feitio, sou a face sem rebeldia... Mas tenho uma mala pronta para partir quando for chegada a hora.
- Uma mala, você não precisa de mala, sempre dá um jeito em tudo!
-É modo de dizer... Não é uma mala de verdade, é o chegar da hora, é determinação, é destino, é mando de Deus. E por tudo isso  inda   não posso  porque  tenho muitos à minha volta que riem com o meu riso, que choram com o meu choro, que se esperançam com o meu entusiasmo e que não partem, assim, por não ter mais o que dizer. Não partem, simplesmente,  essa partida com presença, porque têm muito a me dizer todos os dias,  porque me amam. Por isso não parto, por eles, não parto por você, pois  eu sou você! E vamos arrumar essa cara, colocar um vestido branco lindo, iluminar esses olhos verdes que Deus lhe deu, passar um batom, arrumar os cabelos e esperar esse 2014 de peito aberto pro que der e vier! E quando tudo terminar a gente vai pra CURITIBA!
- Combinado!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Rita Bittencourt "Brincos Dentes-de-leão" - Joia Autoral

 
São assim como bichinhos mansos,
como lagartinhas,
como flores tocadas pelo vento
e que desfazem-se.
Dentes-de-leão,
flores da minha infância.
Etérea infância,
etérias flores,
etéria vida...
 
Brincos confeccionados em prata, ágata negra, contas de turmalinas, seda, pérolas e cristais-de-rocha, bicolores.

sábado, 14 de dezembro de 2013

RITA BITTENCOURT - "Como uma flor" - Um projeto.

 
Oh, rubra flor,
que perfume roubarei de ti?
 
Projeto de colar inspirado no MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Desenho artístico.

RITA BITTENCOURT - Um projeto....


 
Detalhes do desenho. O cristal esculpido especialmente para o projeto.