segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"Des-Vênus- Escultura - Rita Bittencourt

 
Des-Vênus,
desnuda,
anônima,
guardada em caixa,
perdeu os pés...
Sem eles
irá a lugar nenhum
e nada verá  e nada dirá
pois  sua boca e seus olhos
não despontaram.
Não verão flores,  seus olhos,  nem sua boca
contará histórias...
E seus ouvidos fechados
não ouvirão risos ou ais.
Farta em proporções espere, talvez, prenhe,
um filho escondido em seu oco de barro,
que jamais virá à luz,
que jamais sugará seus seios.
Tão incompleta, mulher de barro,
sem o sopro divino!

 
Há tempos atrás começei  meu trabalho esculpindo o barro. Tenho fascinação pelos volumes, pela sinuosidade, pelas curvas... Daí nasceram as esculturas, sempre mulheres sem olhos, ouvidos ou boca... Não sei porquê... Talvez representassem o meu silêncio e alheação no momento em que elas eram concebidas, tamanho o mergulho nas minhas profundezas, gestando essas filhas estáticas... E, hoje encontrei essa, numa caixa, já sem os pés. Provavelmente foi violada e como está em barro ainda crú, não resistiu à curiosidade não sei de quem... Restou um esboço de assinatura - Rita - num dos pés mas restou mais: minha alegria em reencontrá-lo como se, assim, sem a queima que a desfragilizaria, fosse ainda o meu bebê aguardando cuidados. Ando me emocionando tanto...