terça-feira, 31 de dezembro de 2013

"NÃO IMPORTA, A ÁRVORE" - Rita Bittencourt

 
        Um homem estacionava seu caro todas as manhãs, embaixo duma árvore frondosa e florida. Sombra farta e fresca, carroceria salpicada de florinhas vermelhas - flamboyant... Á tarde, pegava seu carro e partia célere, o carro arejado, deixando as flores caírem pelo caminho. Era olhado com um certo romantismo pois passava salpicando o solo das flores que voavam - flores de um vermelho coral típico daquela árvore - até sumir na curva... Era tido como um homem bom, era amado pelas flores que deixava para trás, pela constância dos hábitos, pela aura de encanto que tudo isso lhe conferia. Certo dia, à tarde,  ao chegar,  a árvore que estava bichada jazia no solo, separada em pedaços, para o lixo. Por segurança - sabem como os flamboyants apodrecem, foi tombada. E aquele homem que aproveitou-se anos e anos da sua sombra e da alegria de suas flores, começou a esbravejar e chutar  os tocos estocados e a lamentar como seu caro estava quente e sujo. E a limpar com raiva  as flores vermelhas que coalhavam a carroceria do seu carro. Saiu desembestado e nenhuma flor voejou atrás como borboletas. Nunca mais voltou. É, assim é a vida, são assim os homens, somos assim...

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